A energia do “energético” vem do açúcar, não da cafeína

Substância usada como base de bebidas estimulantes não é fonte de energia, mas sim uma droga psicoativa; saiba mais no segundo texto de nossa série especial "cafeína"

Séries especiais

Popularmente conhecidas como energéticos no Brasil (ou energetic drinks por aí afora), bebidas à base de cafeína (um alcaloide) e taurina (um aminoácido), são amplamente consumidas no mundo desde o final da década de 1990. No Brasil, entre 2010 e 2016, os energéticos tiveram crescimento de 80% no consumo médio per capita, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (ABIR). Em 2010, um brasileiro consumia em média 300 mL, e em 2016, já eram 500 mL. Nesse meio tempo, o volume de produção saltou de 64 milhões de litros para aproximadamente 111 milhões de litros por ano.
“Poucos atentam para o fato de que esses energéticos são ricos em açúcar também. E, na verdade, é a glicose presente nessas bebidas que ‘dá energia’, por meio da queima do açúcar. O energético é um psicoestimulante à base de cafeína, ou de taurina. A cafeína não ‘dá energia’, ela é uma droga psicoativa. As fontes de energia são carboidratos, lipídios.... Enfim, são os macronutrientes”, esclarece Bruno Gualano, professor do departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Ele alerta que um consumo excessivo de energéticos não implica apenas em ingestão de cafeína em demasia, mas também de açúcar, o que não é recomendável.
Os energéticos são regulamentados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) na Resolução RDC nº 273, de 22 de setembro de 2005, que trata de “Compostos Líquidos Prontos para o Consumo”. Segundo a Agência, a categoria se refere a produtos que contêm como ingredientes principais inositol, glucoronolactona, taurina e cafeína, podendo ser adicionados de outros ingredientes, desde que não descaracterizem o produto, bem como de vitaminas e minerais.
A resolução também estabelece que a lista de ingredientes no rótulo do produto deve trazer as quantidades de cafeína, taurina, inositol e glucoronolactona presentes na porção da bebida. O limite máximo de cafeína estabelecido pela normativa nos energéticos é de 35 mg/100 mL de produto. Quanto à taurina, o máximo são 400 mg/100 mL de produto.
“A taurina é bastante comum nas bebidas energéticas por conta de seu suposto efeito psicoativo, que ainda requer confirmação. Sabe-se pouco a respeito dos efeitos da ingestão da taurina sobre o sistema nervoso central, é tudo muito especulativo. Não sabemos ao certo, por exemplo, o que acontece quando se mistura a taurina com a cafeína. A cafeína pode melhorar o desempenho de esportistas recreacionais e atletas profissionais, porém não sabemos se a taurina tem o mesmo efeito”, admite Gualano, também pesquisador do NAPAN (Núcleo de Apoio à Pesquisa em Alimentos e Nutrição).
Ele chama a atenção, ainda, para a mistura de energéticos com álcool, algo que virou febre nas “baladas” há mais de uma década. “Existem pesquisas que mostram que a pessoa que bebe álcool com energético acaba bebendo mais. O energético dá a falsa sensação de que ela está bem, mascara o efeito do álcool, faz com que o indivíduo se sinta apto a fazer coisas perigosas quando se está bêbado, como dirigir, por exemplo.”
Em 2015, o Brasil tentou passar um Projeto de Lei proibindo que energéticos fossem vendidos a menores. Não passou. No ano passado, o Reino Unido também tentou proibir a venda a crianças e adolescentes menores de 16 anos. Não conseguiu.
“Os energéticos são, no geral, bebidas açucaradas, e mesmo as que são diet ou livres de açúcar são ricas em cafeína. O uso habitual em altas quantidades pode ser nocivo, sobretudo a pessoas mais sensíveis e que sofram de grave arritmia ou insônia, por exemplo. Eu recomendo parcimônia no consumo”, resume. 

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