Como manter uma alimentação saudável em tempos de isolamento?

Confira as dicas do professor Bruno Gualano, da Faculdade de Medicina da USP, um dos coordenadores do Grupo Pesquisa em Fisiologia Aplicada & Nutrição e Pesquisador Associado do FoRC.

CORONAVÍRUS

Prof. Dr. Bruno Gualano
Faculdade de Medicina da USP
Co-coordenador do Grupo Pesquisa em Fisiologia Aplicada & Nutrição e Pesquisador Associado do FoRC

03/04/2020 - Manter uma alimentação saudável é tarefa das mais complexas mesmo em condições de normalidade. Com a pandemia da Covid-19 e as consequentes medidas de isolamento para evitar o contágio, as rotinas das famílias mudaram drasticamente, impondo, assim, um desafio extra na busca por uma alimentação adequada, tão necessária na manutenção da saúde e do bem-estar.

Nosso Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada & Nutrição (USP) elaborou dicas práticas, pautadas no Guia Alimentar para a População Brasileira e nas recomendações da Organização Mundial da Saúde, a fim de auxiliar a população a criar novas rotinas que levem em conta uma alimentação saudável e prazerosa. Eis algumas sugestões:

1) Estabeleça novas rotinas alimentares. As rotinas foram modificadas e, com elas, a alimentação da família. Organize os horários das refeições, planeje as compras e considere nas novas rotinas o tempo necessário de preparo dos alimentos.

2) Não estoque comida em excesso. Assim, você evita o desperdício e a falta de alimentos para o próximo.

3) Cozinhe mais. Nem tudo é dissabor na quarentena. Agora, você terá mais tempo para cozinhar, o que pode ser uma fonte de descontração e alívio de estresse para toda a família. Tente novas receitas e seja inventivo. Transforme o ato de cozinhar num passatempo.  

4) Prefira alimentos in natura. Frutas, verduras, legumes, carnes, leite, ovos etc são boas opções. Não se esqueça de higienizar frutas, verduras e legumes com água e hipoclorito de sódio (Saiba como abaixo).

5) Limite o consumo de alimentos que podem ser prejudiciais à sua saúde. Salgadinhos, biscoitos, sucos em pó e refrigerantes, por exemplo, devem ser evitados. Leia a lista de ingredientes dos produtos; os primeiros da lista são os que estão em maior quantidade.

6) Quando pedir entrega em casa, prefira “comida de verdade” a fast food. Opte por comidas caseiras, que se assemelhem as que você faria em sua própria cozinha. Privilegie também os pequenos comerciantes locais às grandes redes de restaurante; estes últimos terão muito mais chances de superarem a crise econômica.

7) Faça refeições em família. A reunião dos familiares à mesa para desfrutar de uma refeição é uma prática esquecida em tempos modernos, mas que agora pode ser resgatada. Evite distrações durante as refeições; dê uma pausa no uso de celulares, TV e tablets e transforme a presença dos familiares num momento de prazer e congregação.

8) Não recorra à comida para lidar com suas emoções. O isolamento pode trazer diferentes sentimentos, como medo, angústia, tristeza e ansiedade. Todos estes são naturais na situação em que vivemos, mas não os desconte na alimentação. Coma por fome e/ou prazer. Não abuse do álcool e evite café se tiver dificuldades em dormir.

9) Respeite suas vontades, mas evite exageros. Não há alimentos proibidos. Contudo, produtos como salgadinhos, biscoitos, balas, refrigerantes devem ser consumidos em pequenas quantidades, sem substituir uma refeição. Coma-os com tranquilidade e saboreie-os. Mantenha pequenas porções de frutas, sucos e outras preparações in natura (como, por exemplo, sobras das refeições anteriores) como alternativas para quando surgir a vontade de “beliscar”.

10) Não acredite em dietas milagrosas. Não há evidência científica de que alimentos, ingredientes, nutrientes ou shots de vitaminas, minerais e antioxidantes possam melhorar a resposta imune à Covid-19. Além disso, não é o momento para se aventurar numa destas dietas restritivas da moda. No geral, dietas restritivas não são eficazes no longo prazo. A autoprivação de um alimento que nos dá prazer pode ser fonte extra de ansiedade e estresse. Prefira uma dieta in natura e diversificada, em quantidades moderadas.

Essas medidas de alimentação saudável devem vir acompanhadas de atividade física regular e boas noites de sono. Em conjunto, pequenas mudanças de comportamento podem contribuir para uma melhor qualidade de vida durante o período de isolamento. Infelizmente, sabemos que a adoção de boa parte dessas medidas não é uma realidade para populações vulneráveis, particularmente num momento de crise sanitária e econômica como o atual, que afeta desigualmente uma sociedade desigual.

Nesse contexto, imediatas ações governamentais são imperativas para assegurar a cada cidadão condições básicas que viabilizem uma alimentação adequada, direito consagrado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. A ação comunitária também é vital, em especial onde o Estado não chega. Se possível, voluntarie-se para fazer compras, cozinhar e doar alimentos para vizinhos necessitados e organizações de caridade. 

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