Suco de laranja pode gerar efeito cardioprotetor, benefícios cognitivos e cardiovasculares

Você sabia?

Há fortes evidências dos efeitos benéficos do suco de laranja à saúde. Além de ser fonte de vitamina C e fibra alimentar, pesquisas estão sendo conduzidas para atestar o papel das flavanonas, um dos compostos bioativos presentes no suco, como principais responsáveis por estes efeitos. De acordo com Francisco Tomás Barberán, do Centro de Edafología y Biología Aplicada del Segura, Espanha, em um copo de suco de 250 mL há aproximadamente 25 a 60 mg de flavanonas.

“A laranja e os sucos puros são ricos em polifenóis - como as flavanonas - e outros bioativos, como os terpenoides e carotenoides. Mas há certa dificuldade em demonstrar os efeitos benéficos das flavanonas, pois cada indivíduo responde de uma maneira à ingestão de bioativos. Isso pode estar relacionado a variáveis como gênero, idade e estado de saúde”, afirmou em recente simpósio organizado pelo Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC – Food Research Center), em São Paulo.

No Brasil, de acordo com a Professora Neuza Mariko Aymoto Hassimotto, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP (FCF/USP) e pesquisadora do FoRC, a laranja contribui com um terço do consumo diário de flavonoides totais pela população. “Neste caso, quase a totalidade de flavanonas é proveniente principalmente do consumo de laranja, o que demonstra sua importância na nossa dieta.” 

Benefícios cardiovasculares e cognitivos - O pesquisador Dragan Milenkovic, do Institut National de la Recherche Agronomique (INRA), na França, ressalta o papel das flavanonas em relação às doenças cardiovasculares. Ele relata que, em experimento realizado com ratos que ingeriram dieta com alto conteúdo de gordura seguida de suco de laranja ou de uma bebida ‘controle’, houve uma redução de 18% na aterosclerose dos animais que ingeriram suco, quando comparados ao outro grupo, que não o consumiu. “Sabemos que as flavanonas dos citrus podem ter efeito cardioprotetor, mas ainda são necessários ensaios clínicos para atestar a função benéfica protetora contra as doenças cardiovasculares.”

Outros cientistas, como David Vauzour, da University of East Anglia, no Reino Unido, estão verificando se é possível reduzir o declínio cognitivo que caracteriza diversos tipos de demência com a ingestão de suco de laranja. “Fizemos testes cognitivos com grupos de indivíduos saudáveis de diferentes idades e notamos que a capacidade de estar alerta foi maior naqueles que ingeriram um copo de suco de laranja diariamente. Como sabemos que as concentrações desses compostos no suco são da grandeza de nanomolares, queremos entender como essa baixa concentração pode modular as respostas do indivíduo”, explica, referindo-se à concentração molar (um nanomolar é a milionésima parte de um molar).

Infância e gestação – De acordo com Thomas Ong, professor da FCF e também pesquisador do FoRC, a composição da dieta por ambos os genitores – pai e mãe – pode influenciar e/ou predispor o aparecimento de algumas doenças na prole, entre eles alguns tipos de câncer, regulados por mecanismos epigenéticos. Segundo Ong, os polifenóis da laranja podem atuar sobre a regulação dos mecanismos epigenéticos e como eles influenciam a proteção dos filhos ao câncer.

“Além do código genético clássico, há um outro, o código epigenético, que diz respeito a uma ‘informação genética extra’. No início da vida e no momento da lactação, esse processo está muito ‘plástico’, ou seja: supomos ser possível intervir positivamente, modulando a expressão de genes da mãe e do pai por meio da administração de polifenóis”, resume. 

Consumo – Apesar dos benefícios, o consumo nos quarenta maiores mercados do suco brasileiro recuou 19%, de acordo com Larissa Popp Abrahão, diretora de Relações Institucionais da Citrus BR. Ela afirma que a queda se deve a vários fatores: mudanças de hábitos, falta de informação sobre os benefícios da bebida e a forte polêmica acerca da frutose presente no suco, que ganhou destaque na mídia nos últimos anos, de forma equivocada.

Para o professor da FCF e pesquisador do FoRC, Franco Maria Lajolo, organizador do evento ao lado da professora Neuza Hassimotto, é preciso desmistificar certas informações que correm na mídia. “Sobretudo informações sobre o metabolismo do açúcar, como a de que a frutose faz mal para o fígado. É preciso ingerir muita frutose para ter um problema hepático. Deve-se incentivar discussões com a participação da comunidade científica e de órgão públicos relacionados.” Segundo ele, ainda não há pesquisa suficiente para dizer claramente ao consumidor que o suco de laranja pode melhorar doenças como a síndrome metabólica, mas há informação de qualidade para desmistificar informações incorretas veiculada pela mídia e, principalmente, pelas redes sociais.

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Imagem: Freepik

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