Suco de cagaita pode ser um novo aliado no combate à diabetes

Pesquisa da USP mostra que essa fruta nativa, rica em polifenóis, reduz significativamente o índice glicêmico após as refeições.

Fronteira do conhecimento

14/06/2021 - Um estudo da Universidade de São Paulo pode abrir um novo caminho para o tratamento e prevenção da diabetes, a partir do consumo do suco de cagaita, fruta nativa do Cerrado brasileiro. Conduzida na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF-USP) e na Faculdade de Medicina (FMUSP), a pesquisa avaliou em testes clínicos o potencial do suco de diferentes frutas nativas na redução da glicemia pós-prandial – aumento do nível de glicose no sangue que ocorre até duas horas após as refeições. O suco de cagaita obteve o melhor resultado, reduzindo a glicemia em 64% em indivíduos saudáveis e 53% em indivíduos pré-diabéticos.

Segundo a autora do estudo, a nutricionista Renata Luise de Araujo, mestre e doutora em Ciência dos Alimentos, as frutas nativas do Brasil são muito ricas em polifenóis. Essas substâncias são capazes de reduzir a ação das enzimas envolvidas na digestão dos carboidratos, reduzindo a sua absorção e, consequentemente, controlando o nível de glicose no sangue. Os polifenóis também apresentam ação antioxidante e anti-inflamatória.

Na primeira etapa da pesquisa, 23 indivíduos saudáveis consumiram pão e água e tiveram a sua glicemia avaliada. Após sete dias, o mesmo grupo consumiu pão e 300 mL do suco de uma das seis frutas nativas estudadas, que tiveram os seguintes resultados na redução da glicemia: cagaita (64%), cambuci (36%); camu-camu (31%); jabuticaba (24%), cupuaçu (20%) e maracujá-alho (11%).
O suco que obteve o melhor desempenho, o de cagaita, foi o escolhido para a segunda fase do estudo. Nesta, o mesmo desenho experimental foi aplicado em 12 indivíduos pré-diabéticos, obesos e portadores de síndrome metabólica (glicemia alterada, hipertensão e colesterol elevado). “O suco reduziu em 53% a quantidade de glicose absorvida e 38% a quantidade de insulina”, destaca Araujo.

Tratamento adjuvante – Os resultados promissores indicam que o consumo do suco de cagaita poderia ser um tratamento adjuvante eficaz na redução da glicemia pós-prandial, reduzindo o risco de desenvolver diabetes ou evitando a progressão da doença. “Acreditamos que o consumo desse suco por indivíduos diabéticos também pode trazer benefícios, tendo em vista que o excesso da glicose no sangue pode trazer complicações cardiovasculares para esses pacientes”, avalia a pesquisadora.

E esse é justamente o foco da próxima etapa da pesquisa: analisar os efeitos do suco em indivíduos diabéticos. Além disso, o grupo pretende investigar quais são os metabólitos provenientes dos polifenóis – isto é, em que eles se transformam após cumprirem a sua função no intestino e serem absorvidos pelo organismo. “Isso nos ajudaria a entender melhor como os polifenóis agem no corpo e se existem outros benefícios”, afirma Araujo.

Para quem se animou com a boa notícia e pretende consumir a cagaita, a nutricionista explica que há uma diferença entre a fruta in natura e o suco no que se refere à biodisponibilidade dos polifenóis e de outros compostos bioativos. “Na fruta, esses compostos se encontram ‘presos’ dentro da matriz celular. Quando ingerimos, eles precisam passar pela acidez do estômago, depois pelo intestino, para que haja liberação desses compostos da matriz celular. Já no caso do suco, os compostos estão mais biodisponíveis, facilitando a sua ação no intestino e a sua absorção.”

Por ser uma fruta típica do Cerrado, a cagaita pode ser encontrada em diversos estados, como na Bahia, Minas Gerais, Tocantins, Goiás, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Trata-se de um fruto pequeno, de aproximadamente 3 cm de diâmetro, perfumado, com casca amarela e polpa suculenta. O sabor da fruta é levemente ácido e refrescante, podendo ser consumida in natura. No entanto, é melhor não consumir em grande quantidade, devido ao seu efeito laxativo. Suas folhas são usadas com fins medicinais, pois, ao contrário dos frutos, têm ação antidiarreica.

A cagaiteira frutifica no início das chuvas, ocorrendo de setembro a novembro, e pode atingir até 10 metros de altura. Devido à casca fina, a fruta é bastante perecível, por isso a sua comercialização mais comum é na forma de polpa congelada. Na internet, é possível encontrar vários fornecedores. Além do suco, a cagaita é utilizada na fabricação de sorvetes, geleias e doces. Quando fermentados, os frutos também podem ser usados para a produção de álcool e vinagre.

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