O Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC – Food Research Center) lançou nesta segunda-feira (16/10), a sexta versão da Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TBCA). O lançamento aconteceu na sede do FoRC, na Cidade Universitária, onde os pesquisadores envolvidos demonstraram a ferramenta para a comunidade científica. Ela pode ser acessada no link www.fcf.usp.br/tbca.
“Nesta versão 6.0 da TBCA, apenas 12% do conteúdo é importado de tabelas de outros países. A ferramenta, seguramente, irá auxiliar pesquisadores, profissionais da saúde e até a comunidade em geral para atingir a meta de uma alimentação saudável, e com base em dados prioritariamente brasileiros. Trata-se do resultado do esforço conjunto e da colaboração de diversos pesquisadores, de inúmeros grupos de pesquisa, não só da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP (FCF/USP), mas de todo Brasil, de alunos de pós-graduação da USP, de profissionais da indústria de alimentos, entre outros, bem como do suporte das agências de fomento”, anunciou a professora Elizabete Wenzel de Menezes, que divide a coordenação do trabalho ao com o professor Franco M. Lajolo, ambos da FCF e pesquisadores do FoRC.
A TBCA foi primeira tabela de composição de alimentos online da América Latina e, atualmente, é a mais abrangente feita no país, trazendo a composição nutricional de 1.900 alimentos, incluindo crus e cozidos, produtos manufaturados e pratos compostos. “A origem desse trabalho é decorrente da criação da Infoods, a International Network of Food Data Systems, cuja ideia era inicial era gerar uma tabela mundial, e fazer todo mundo trabalhar junto e gerar dados obedecendo a critérios estabelecidos mundialmente. Eu fui convidado a fazer parte dessa rede. Foi assim que começamos”, lembra o professor Lajolo.
Versão 6.0 – A TBCA foi para o ar pela primeira vez 1998. “Os dados da nossa base vêm sendo coletados desde a década de 1990, mas sua apresentação dificultava a leitura. Nós aumentamos a quantidade de alimentos e de dados de composição química relativos a cada alimento e aprimoramos a apresentação e a busca, que pode ser feita pelo nome do alimento, em português ou inglês, pelo nome científico ou ainda pelo nutriente”, afirma Kristy Soraya Coelho, doutoranda do PRONUT/USP e pesquisadora do FoRC que demonstrou a TBCA para a comunidade científica.
Nesta última versão, algumas novidades: a composição nutricional das receitas mais comuns consumidas pelos brasileiros – como feijoada, arroz, feijão, entre outros; a possibilidade do usuário fazer buscas por nutrientes específicos (por exemplo: alimentos fontes de proteínas dentro do grupo dos vegetais); e uma ferramenta de avaliação de ingestão energética.
“Temos na tabela dados de alimentos prontos para consumo já adicionados de sal, de óleo e de tempero, diferente de outras tabelas, que trazem alimentos preparados, mas não necessariamente prontos para consumo, como arroz cozido sem sal, por exemplo", ressalta Kristy. Houve uma preocupação em trazer informações sobre um grande número de diferentes preparações, com e sem temperos e sal, a fim de atender a diferentes necessidades de pesquisa ou consulta. “Nenhum profissional de nutrição prescreve o arroz ou o feijão crus; por isso, para facilitar a utilização da tabela, a inclusão das preparações é fundamental”, complementa Elizabete.
Já a ferramenta de cálculo de ingestão de energia exige apenas um cadastro do usuário para ser utilizada. "Em seguida, ele descreve os alimentos que ingeriu em uma determinada refeição. Com base nesses dados, a ferramenta vai calcular o quanto ele consumiu de energia”, explica Kristy.
Mas o instrumento permite somente uma consulta pontual, segundo ressalta Eliana Giuntini, pesquisadora do FoRC e doutora em Nutrição Humana Aplicada, que coordena a reformulação do site da TBCA. “É uma forma de as pessoas conhecerem o trabalho que fazemos e que permite fazer uma autoavaliação de algumas refeições, para que elas reflitam sobre sua alimentação. Caso queiram mais informações, devem buscar um profissional de nutrição para orientá-las.”
Na tabela, os alimentos estão divididos em grupos, de acordo com a Infoods: cereais e derivados; vegetais; frutas; gorduras; pescados; carnes; leite; bebidas; ovos; açúcar; miscelânea (temperos, café em pó, molho de salada, sal, fermento); dietéticos; industrializados (pós para preparo e produtos desidratados); leguminosas e nozes e sementes.
Referências – As tabelas de composição química de alimentos são a base para praticamente todos os aspectos da nutrição, pois compilam informação sobre valores energéticos e conteúdo nutricional dos alimentos. É a elas que profissionais de nutrição recorrem para montar cardápios e personalizar dietas. São elas que os pesquisadores consultam em busca de dados para embasar pesquisas que envolvem a quantificação de nutrientes em alimentos.
“Nosso objetivo é apresentar dados de composição para os alimentos citados na POF, Pesquisa de Orçamento Familiar, que nos indica o que o brasileiro consome em casa, ou seja, como ele se alimenta. A meta é incluir na TBCA dados da maior parte dos alimentos e preparações que constam da POF, que são mais de 2 mil”, afirma Elizabete.
Na versão atual, a ideia é que os dados sejam prioritariamente brasileiros, mas também é uma meta do grupo que cada alimento tenha o mais completo quadro de informações possível. “Muitos dados nós não temos, então, recorremos a informações específicas de bases de dados de outros lugares. Nesses casos, há o cuidado de usar a fonte de informação mais próxima possível do alimento brasileiro”, explica Eliana. Essas informações estão na base de dados: da TBCA – a Avaliação de Ingestão de Nutrientes, em que cada alimento tem mais de 30 componentes descritos.
“Existem alimentos para os quais a gente sabe, de antemão, que não vai conseguir todos dados, porque são típicos do Brasil, ou regionais, como açaí, pinhão ou pequi, por exemplo. Diante disso, decidimos agrupar as informações relativas a esses alimentos em outra base de dados: TBCA - Biodiversidade e Alimentos Regionais”, explica Kristy.
Medidas caseiras – Nessa última versão da TBCA, a quantidade de alimentos cozidos aumentou. A variedade de receitas vai do suco ao acarajé, passando por, arroz e feijão temperados, saladas, molhos, carnes, massas, sanduíches... “Estamos montando as receitas a partir dos alimentos mais citados nas pesquisas sobre consumo alimentar, que são os mais consumidos”, resume Eliana.
Elizabete explica que são necessários muitos dados para calcular as receitas. “Para fazer o cálculo de uma receita é preciso ter a composição de todos os ingredientes e a quantidade utilizada na receita, em peso, além do rendimento, para saber o quanto a preparação perdeu ou ganhou de água e de gordura.” A tabela traz as informações dos componentes por 100 g do alimento, mas também em medidas caseiras mais comuns (xícara, colher de sopa, colher de sobremesa...). “É para facilitar a vida do usuário final, que não tem intimidade com as unidades de medida que usamos.”
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