Elas são muito delicadas e duram no máximo sete dias nas prateleiras dos supermercados e nas feiras livres. Mas podem deixar saladas e sobremesas mais bonitas, e podem também ser usadas no preparo de bebidas. Além disso, são ricas em compostos bioativos. Estamos falando das flores comestíveis, iguarias já disponíveis em diversos entrepostos, incluindo a Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo). Com o objetivo de aumentar a durabilidade das flores nos pontos de venda, estão sendo desenvolvidos estudos relacionados à interação das flores comestíveis com a radiação, método já utilizado em outros tipos de alimentos (especiarias e grãos, por exemplo), como alternativa para garantir um produto mais fresco e seguro. Os estudos são conduzidos por um grupo atuante de pesquisas na área de irradiação de alimentos, liderado pela professora Anna Lucia Villavicencio, do Centro de Tecnologia das Radiações (CTR) do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN - CNEN/SP).
Atualmente, cerca de 100 espécies são reconhecidas pela ciência como flores comestíveis. Entre as mais utilizadas para fins gastronômicos estão a capuchinha (Tropaeolum majus), uma flor de coloração laranja com um sabor levemente picante, assemelhado ao do agrião, e cujas folhas também são consumidas; o amor-perfeito (Viola tricolor), que tem sabor levemente adocicado e tem cores intensas e variadas; a cravina (Dianthus chinensis), de cores vibrantes e sabor suave; e a flor de jambu (Acmella oleracea), que anestesia a boca e é típica do Norte do Brasil.
Entretanto, a comercialização dessas espécies é limitada pelo tempo reduzido que elas duram nos pontos de venda. “As flores comestíveis disponíveis ficam frescas por pouco tempo nas embalagens e o único processo aplicado comercialmente para conservação do produto, de modo que chegue fresco à mesa do consumidor, é o resfriamento. Por isso, um dos desafios para ampliação do consumo de flores comestíveis está no aumento da sua vida de prateleira, que possibilitaria a venda para locais mais distantes dos pontos de produção”, diz a professora Amanda Cristina Ramos Koike, pesquisadora-colaboradora do IPEN, que estuda o processo de irradiação para conservação de flores comestíveis.
A técnica consiste na exposição dos alimentos à radiação com a finalidade de controlar a deterioração enzimática, microbiana, e química, assim como a presença de insetos, incluindo larvas e ovos. Em seu doutorado, Amanda focou as análises na capuchinha (imagem que ilustra este post) e no amor-perfeito, e constatou que a irradiação retarda a degradação das flores. Ela conseguiu ampliar o tempo em que as flores permanecem com as características ideais para consumo de sete para 14 dias. “Ou seja, se combinarmos o processo da irradiação com o da refrigeração, já utilizado convencionalmente pelos produtores, é possível praticamente duplicar a vida de prateleira”, completa.
A irradiação, também usada para atrasar o amadurecimento de frutas e a brotação de vegetais como a cebola, a batata e o alho, não torna a comida radioativa porque a radiação é aplicada em baixas dosagens e não atinge o núcleo das moléculas. Primeiro, a pesquisadora avaliou se as flores em estudo eram tolerantes à radiação e não apresentavam alterações nos aspectos físicos – como cor, aroma e textura –, e nas qualidades nutricionais – como possíveis perdas de compostos bioativos, por exemplo. “Registramos o oposto, inclusive: uma maior conservação dos compostos fenólicos. Em amostras irradiadas, a quantidade desses compostos era maior do que nas não irradiadas”, aponta.
Parte da pesquisa foi desenvolvida no Instituto Politécnico de Bragança, onde ela analisou a citotoxicidade, ou seja, se o uso da irradiação não promoveu alterações nas flores de modo a gerar compostos tóxicos. A pesquisa indicou que não houve mudança, garantindo ser seguro usar a irradiação para o tratamento das flores comestíveis. Também avaliou eventual atividade antiproliferativa, mas são necessários mais estudos para obtenção de resultados precisos sobre o potencial das flores comestíveis quanto a esse aspecto.
Fique atento: nem todas as flores são comestíveis!
Antes que você corra para a floricultura mais próxima pensando em comprar um buquê para preparar um prato romântico para seu par, entenda que não são todas as flores que você pode saborear. “Primeiro, nem toda flor é comestível e algumas são, inclusive, tóxicas. Além disso, as que podem ser consumidas são produzidas de forma diferente em relação à produção de plantas ornamentais”, explica Amanda. As comestíveis são produzidas em estufas, com clima, irrigação e solo controlados constantemente. “Não se usa defensivo agrícola ou fertilizante, é tudo natural”, acrescenta, afirmando que nem todas as partes das flores podem ser utilizadas como alimento. Geralmente são usadas as pétalas, removendo-se caule; sépalas (estruturas foliáceas, normalmente menores e mais consistentes do que as pétalas); pistilos (conjunto de órgãos femininos) e estames (órgão masculino).
Saiba mais:
FoRC e IPEN trabalham juntos em pesquisa sobre irradiação de alimentos
Imagem: Banco de Imagens da USP/Creative Commons
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