Um estudo realizado pelo Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC – Food Research Center) sugere que o suco de laranja tem propriedades que podem combater os efeitos de refeições hipercalóricas com altos teores de gordura e carboidrato. A pesquisa é resultado do pós-doutorado da nutricionista Daniela F. Seixas Chaves, sob a supervisão do professor Franco Maria Lajolo, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, e foi aceita para publicação no Journal of Proteome Research, importante revista científica da área.
“Fizemos um estudo agudo: os participantes da pesquisa vinham até o FoRC pela manhã, em jejum, após ingerir um jantar padrão fornecido por nós na noite anterior. Quando chegavam, coletávamos uma amostra de sangue e depois oferecíamos um café da manhã com alto teor de carboidratos e gorduras, acompanhado de uma bebida: água, na primeira vez em que vinham; suco de laranja na segunda, e água com glicose na última. Depois coletávamos material novamente para analisar: uma hora, três horas e cinco horas após a ingestão da refeição”, explica Daniela.
A pesquisadora usou um suco industrializado, pasteurizado, desses que se compra em qualquer supermercado. “Trabalhamos com o suco industrializado porque, assim, conseguimos manter o padrão do suco consumido, o que não conseguiríamos com a laranja espremida na hora”.
O objetivo era comparar a resposta do organismo após a ingestão da refeição junto com as três bebidas. “O método consiste em induzir uma inflamação de baixo grau nas células de defesa do organismo, por meio do café da manhã rico em carboidratos e gorduras, e observar o impacto da ingestão do suco. A água e a bebida com glicose foram usadas para efeito de comparação.”
Esse procedimento foi realizado durante cinco semanas com 12 adultos saudáveis, homens e mulheres, entre 25 e 45 anos. Daniela e a equipe com quem trabalhou conseguiram identificar mais de 3.800 proteínas nas células mononucleares periféricas (linfócitos e monócitos). Destas, entre 70 e 140 tiveram a expressão alterada durante os três tratamentos.
“Quando ministramos a refeição com a glicose, o sistema imune foi acionado e marcadores inflamatórios foram elevados. Na refeição com água houve aumento em alguns marcadores. Por outro lado, quando a refeição foi ministrada com suco de laranja, várias das vias induzidas pela glicose foram reprimidas, sobretudo proteínas envolvidas com o sistema imune e citocinas, que são moléculas envolvidas na emissão de sinais entre as células durante a resposta imune. Isso significa que o suco de laranja tem, de fato, ação contra a inflamação. Claro que estamos falando de uma pequena inflamação. Mostramos que o suco pode não só suprimir a resposta inflamatória induzida por uma refeição, mas também regular a expressão de proteínas que podem desempenhar papeis fundamentais na regulação do metabolismo.”
Segundo Daniela, os resultados indicam que o suco de laranja pode ser usado como uma abordagem anti-inflamatória. “É um alimento de fácil acesso, barato, abundante no Brasil. É recomendável que as pessoas tomem o suco, e isso vale sobretudo para quem tem uma dieta que induz cronicamente a inflamações, ou seja, quem consome muita gordura e muito carboidrato diariamente. Mas faltam estudos que indiquem qual a dose mínima a ser consumida que garanta esse efeito. Isso ainda não foi realizado.”
Ela alerta, entretanto, que como o metabolismo de cada pessoa é diferente, o suco pode, eventualmente, não funcionar para um ou outro indivíduo. Além disso, pessoas que são alérgicas aos cítricos não devem consumi-lo. “O ideal é que as pessoas consumam uma dieta com vários alimentos potencialmente anti-inflamatórios como as frutas, vegetais, cacau e azeite de oliva”
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