Estima-se que 5% dos adultos e 8% das crianças sejam afetados pela alergia alimentar, que compromete cerca de 10% da população ocidental. A alergia a frutas corresponde a aproximadamente 10% das alergias alimentares. No geral, calcula-se que a alergia a frutas em adultos varia de 0.4% a 3.5%. Já em crianças menores de 3 anos, a prevalência é maior que 11.5%. Estes são dados gerais que abrangem Europa, EUA, Austrália, Nova Zelândia e Reino Unido. No Brasil, de acordo com Gabriela Justamante Händel Schmitz, mais pesquisas precisam ser feitas para a obtenção de dados precisos em relação à prevalência de alergia alimentar. Gabriela está realizando uma parte de seu doutorado sobre alergias alimentares na Universidade de Nottingham (UK), orientada pelos professores João Roberto Oliveira do Nascimento, do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC - Food Research Center), e Marcos Alcocer, que supervisiona seu trabalho no Reino Unido.
Ela explica que os grandes “vilões” das alergias são as proteínas alergênicas. “Algumas proteínas presentes nos alimentos são responsáveis por desencadear as alergias, tanto em alimentos de origem vegetal, como as frutas, quanto em alimentos de origem animal, como, por exemplo, o leite. Essas proteínas são denominadas proteínas alergênicas, também conhecidas como alérgenos alimentares. São eles que desencadeiam a resposta imunológica.”
Segundo Gabriela, a alergia alimentar parece estar fortemente associada à genética, embora a suscetibilidade genética, sozinha, não explique satisfatoriamente a prevalência das alergias alimentares. “Sabemos que de 50% a 70% dos pacientes com alergia alimentar possuem histórico familiar de alergia. Se os pais apresentam alergia, a probabilidade do filho a possuir é de 75%.”
Fatores externos, maternos e gastrintestinais também podem influenciar a ocorrência de alergias alimentares. “Alterações na microbiota do intestino, por exemplo, podem aumentar a permeabilidade intestinal, fazendo com que uma maior quantidade de alérgenos seja absorvida pela mucosa do intestino, com consequente sensibilização. Vale ressaltar que o aleitamento materno é de extrema importância, já que o leite materno possui vários componentes que podem estar relacionados com os mecanismos protetores de alergia, como a própria modulação da microbiota intestinal, que estimula o equilíbrio do sistema imune.”
Ela revela que outros fatores podem influenciar a ocorrência de alergia alimentar: associação com a atopia, tempo de exposição ao alérgeno, rota de exposição (exposição tópica ou respiratória, por exemplo, pode sensibilizar o indivíduo), redução no consumo de ômega-3, obesidade, gênero e etnia.
“A insuficiência de vitamina D também está relacionada com a alergia alimentar, sendo que a ingestão materna de vitamina D durante a gravidez está associada à diminuição do risco de sensibilização da criança.”
Frutas – Segundo a pesquisadora, existem famílias de proteínas alergênicas que podem estar presentes nos alimentos de origem vegetal. As mais comuns são profilinas, cupinas e prolaminas. “Até onde se sabe, as alergias a maçã e kiwi parecem ser mais comuns na Europa e nas Américas Central e do Sul. No Reino Unido, frutas cítricas parecem causar mais alergia do que frutas não cítricas em pacientes de todas as idades. Além disso, as alergias a laranja e/ou limão parecem ser comuns entre as crianças menores de 3 anos da Noruega e de outros países da Europa.”
Ainda em relação à parcela infantil da população, de acordo com Gabriela, na Europa continental a alergia a frutas parece ser mais comum do que no Reino Unido, na Austrália e na América do Norte. “E há, ainda, diferenças nos níveis de resposta imunológica: por exemplo, a alergia ao kiwi ocorre mais frequentemente em adultos, mas pode ser mais severa em crianças em comparação aos adultos.”
Ela salienta também, a importância da reatividade cruzada. O consumo de alguns alimentos pode sensibilizar o organismo, fazendo com que o indivíduo desenvolva alergia a outros alimentos do mesmo grupo. “Assim, o paciente alérgico ao camarão pode não tolerar outros crustáceos, e o paciente alergico a castanha do Brasil, por exemplo, pode não tolerar outras castanhas. Além disso, alimentos diferentes podem induzir respostas alérgicas semelhantes no mesmo indivíduo “Um exemplo: se um indivíduo é alérgico a banana, pode ser que ele tenha alergia ao kiwi e ao abacate também, já que estes três possuem proteínas alergênicas similares. Existe, ainda, uma síndrome chamada látex-fruta. Algumas pessoas são alérgicas ao látex e podem ter alergia também a frutas que possuem proteínas similares à proteína existente no látex, como as já citadas: banana, kiwi e abacate.”
Sintomas - Os sintomas de alergia a frutas não são diferentes dos sintomas de alergias a outros alimentos. “Alergias alimentares podem causar sintomas digestivos, como diarreia, vômitos, obstipação e cólicas. Podem, também, causar sintomas respiratórios, tais como: tosse, rouquidão e chiado no peito; cutâneos, como urticária, inchaço, coceira e eczema; e até reações anafiláticas, que acometem vários órgãos simultaneamente e podem ser fatais.”
Uma vez detectada a alergia a determinada fruta, o tratamento é o mesmo que se recomenda no caso de alergia a outros alimentos: a retirada imediata dele da dieta. “O alimento deve ser retirado automaticamente da dieta. Outra coisa: é importante o paciente se manter atento aos rótulos dos alimentos ingeridos. Além disso, o alimento retirado da dieta deve ser substituído por outro, para que a retirada não gere deficiências nutricionais.”
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Imagem: Pixabay atribuição nao requerida
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