Faltam evidências clínicas de que a whey protein seja superior a outras proteínas de alto valor biológico

Você sabia?

Muito valiosa no mercado e cada vez mais popular entre os frequentadores de academias de ginástica, a whey protein (proteína do soro do leite) vem recebendo bastante atenção nos últimos anos. Trata-se de uma proteína de alto valor biológico que oferta grande quantidade de aminoácidos essenciais (especialmente a leucina) possibilitando, assim, o aumento de massa muscular.

“A leucina estimula a síntese proteica e assim potencializa a maquinaria contrátil da célula, possibilitando ganho de massa muscular. O aumento da massa muscular, no geral, acarreta uma melhora na função muscular. E a melhora na função muscular, geralmente, está conectada a uma melhora na qualidade de vida”, explica Bruno Gualano, pesquisador do NAPAN (Núcleo de Apoio à Pesquisa em Alimentos e Nutrição) e professor do departamento de Biodinâmica da Escola de Educação Física e Esportes da USP (EEFE).

Ingerida como suplementação alimentar, a whey protein é geralmente comercializada em pó (ou, menos frequentemente, em cápsulas). Entretanto, como se sabe, nem todos os indivíduos necessitam de suplementação alimentar. “Quem já se alimenta normalmente com uma quantidade adequada de proteína na dieta , no geral alcança com facilidade o nível de proteína necessário para suprir suas necessidades básicas e raramente vai precisar suplementar”, explica Gualano. “Via de regra, quem pode precisar de suplementação proteica são idosos frágeis e atletas, em especial aqueles com alto engajamento em treinamento de força. Os que mais tendem a usar sem critério, os mais bombardeados pela mídia (pessoas que treinam de forma recreacional), esses, no geral, são os que menos precisam.”

Performance – Foi só no começo da década de 2000 que se começou a comparar as proteínas de alto valor biológico separadamente, uma a uma, no tocante à síntese proteica. Nessa época, um estudo canadense comparou a síntese proteica em resposta à ingestão do leite versus uma bebida proteica de soja, e foi então que se descobriu o potencial da whey. “Mas trata-se de um estudo que avaliou uma medida bioquímica (síntese proteica). Do ponto de vista clínico, ainda não sabemos se a whey é superior a outras proteínas de alto valor biológico para o ganho de massa muscular e força. Sabemos, por exemplo, que a proteína de soja tem menos leucina, mas existem poucos estudos clínicos comparando essas proteínas.”

Gualano e sua equipe estão fazendo estudos clínicos, comparando outras proteínas com a whey, na tentativa de aferir os efeitos clínicos da whey protein. “Estamos trabalhando com idosos, inserindo a suplementação proteica junto à dieta em uma situação mais próxima da ‘vida real’ e dos hábitos de pessoas normais. Escolhemos trabalhar com idosos porque é uma população que precisa ganhar ou manter massa muscular e qualquer ganho, para ela, pode se traduzir em benefícios para a funcionalidade e qualidade de vida.”

Ele afirma que, para quem treina recreacionalmente, provavelmente a origem da proteína não faz muita diferença. “É bem possível que, para esses, uma proteína vegetal tenha a mesma função e resultado que a whey. Entretanto, a whey protein é muito mais valiosa, no mercado, que outras proteínas, como a albumina ou a soja, por exemplo.”

Recomendações – Segundo Gualano, no geral, o excesso da proteína é oxidado; portanto a ingestão de proteínas além do recomendado e em quantidades não tão excessivas (cerca de 2,0 g/Kg/dia), a princípio, não traz efeitos deletérios. Segundo ele, a quantidade diária recomendada de proteína é de 0,8 g/kg/dia (para um indivíduo que não treina profissionalmente e não está engajado em exercícios diários de força), e de – 1,2 a 1,8 g/kg/dia para os atletas e as pessoas engajadas em tarefas que exigem aplicação de força. 

“Os idosos frágeis podem não atingir, via dieta, os 0,8 g/kg/dia. Por isso, para eles, muitas vezes se recomenda a suplementação com whey ou outras proteínas, a fim de atenuar a perda de massa muscular que é comum nessa população”, afirma Gualano. Ele ressalta que, em casos em que se aventa a possibilidade de suplementação, a primeira coisa a fazer é consultar um nutricionista e fazer uma avaliação nutricional para confirmar a necessidade de suplementar.

A nutricionista especializada em nutrição esportiva, Vanessa Batista de Sousa Lima, concorda. Em sua avaliação, o suplemento pode ajudar, ainda, no caso de pessoas que treinam com regularidade e não têm tempo de ingerir a quantidade sugerida de proteínas via dieta.

“Eu mesma sou um exemplo: treino de segunda a sábado, só descanso no domingo. Teria de ingerir, pela minha avaliação, seis refeições por dia, todas elas com proteínas. Mas minha rotina de trabalho não me permite. Então, após o treino, em vez de um filé de frango ou algo semelhante, eu lanço mão da whey protein.” Ela lembra, porém, que a ingestão de muita proteína tem de ser acompanhada pela ingestão de água em abundância. “É um cuidado que todo mundo tem de ter, mas especialmente aqueles que ingerem bastante proteína.” 

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