Dieta rica em ácidos graxos saturados altera microRNAs ligados à regulação da inflamação

Descobertos em 1993, microRNAs podem ser importantes biomarcadores relacionados à inflamação

Fronteira do conhecimento

Uma equipe de cientistas ligada ao Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC – Food Research Center) descobriu recentemente que pelo menos 23 microRNAs têm sua expressão alterada quando se ingere uma refeição rica em ácidos graxos saturados. De acordo com o professor Marcelo Macedo Rogero, coordenador do Laboratório de Genômica Nutricional e Inflamação (GENUIN) da Faculdade de Saúde Pública da USP, alguns aumentam muito e outros diminuem muito.

“Nossas células produzem um RNA pequeno, com apenas 22 nucleotídeos, a que chamamos microRNA. Foram descobertos em 1993. Alguns deles têm a capacidade de ser liberados para o sangue, o que é importante, porque esses microRNAs podem ser produzidos em um local do organismo e influenciar outros. Sobre a função deles, o que sabemos é que regulam a etapa de tradução da síntese proteica. Cabe destacar que alguns microsRNAs estão alterados no sangue na ocorrência de certas doenças”, resume Rogero.

Ou seja: com o aparecimento de algumas doenças, a expressão de determinados microRNAs pode aumentar ou diminuir. “A partir dessa premissa, formulamos uma pergunta: se um indivíduo tiver uma refeição rica em ácidos graxos saturados, importantes fatores relacionados à gênese das doenças cardiovasculares, será que alguns microRNAs também vão se alterar? E elaboramos um projeto em que ministramos, a voluntárias, uma refeição com alto teor de ácidos graxos saturados, para então dosar, no sangue, a ocorrência de alterações na expressão de microRNAs.”

O experimento foi feito com 11 mulheres, de 18 a 40 anos, todas saudáveis e com o peso adequado. No dia anterior à ida delas ao laboratório, a equipe lhes entregava uma refeição padrão,que deveria ser ingerida entre 19h30 e 20h, para que, no dia seguinte, chegassem no laboratório em jejum de 12 horas.

“Logo que elas chegavam, coletávamos o sangue e, depois disso, elas tinham 20 minutos para comer uma refeição teste rica em lipídios. Ao todo, cada mulher ingeriaao redor de 1.000 kcal. Então, coletávamos o sangue novamente após uma, três e cinco horas e,assim, dosamos vários marcadores nesses quatro tempos”, explica o professor. 

A equipe dosou 752 microRNAs e verificou aqueles que eram mais (ou menos) influenciados pela refeição rica em ácidos graxos saturados. “Observamos que, pelos menos, 23 micro RNAs são alterados quando se come uma refeição rica em ácidos graxos saturados. Então, avaliamos se esses microRNAs tinham alguma relação com a saúde e a doença. Existem sistemas que permitem avaliar o que chamamos de rede gênica, que geram uma espécie de mapa das conexões, que os microRNAs fazem. E assim descobrimos relação dos microRNAs do nosso estudo com resposta inflamatória e metabolismo de lipídios.”

Resumindo: quando a pessoa come uma refeição rica em saturados, os microRNAs que se alteram são aqueles ligados à regulação da inflamação e do metabolismo de lipídios. “O que os nossos resultados mostram é que os microRNAs podem ser importantes biomarcadores relacionados, por exemplo, com aumento da inflamação ligado à ingestão de lipídios. Quando aumenta a ingestão de lipídios, esses biomarcadores associados ao aumento da inflamação também sofrem acréscimo. O aumento da inflamação, por sua vez,está associado ao aumento do risco cardiovascular”.

Rogero chama a atenção para a o fato de que, ao longo do dia, comemos várias vezes, mais ou menos a cada três ou quatro horas. “Se a cada três ou quatro horas comermos algo que causa essa alteração, é possível que passemos o dia inteiro com uma resposta inflamatória muito alta. Então, se o padrão de refeições que um indivíduo tem é um padrão que tende a aumentar a resposta inflamatória, isso pode acabar sendo um fator importante, em longo prazo, para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.”


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