Vitamina D não ajuda na recuperação de pacientes com COVID-19 moderada ou grave, aponta estudo

Pacientes que receberam uma alta dose de vitamina D ao serem internados não apresentaram benefícios no quadro clínico.

CORONAVÍRUS

24/02/2021 - Um estudo publicado no Journal of the American Medical Association, prestigiado periódico na área de medicina, indicou que a suplementação com vitamina D não é capaz de melhorar a evolução de pacientes com COVID-19 moderada ou grave. Conduzido por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) e do Centro de Pesquisa em Alimentos (Food Research Center – FoRC), o ensaio clínico randomizado, duplo-cego e placebo-controlado contou com a participação de 240 pacientes, atendidos entre junho e agosto de 2020 no Hospital das Clínicas e no Hospital de Campanha do Ibirapuera.

A vitamina D tem propriedades antimicrobianas e anti-inflamatórias e pode beneficiar o sistema imune. Segundo Bruno Gualano, pesquisador associado do FoRC e coautor do estudo, alguns trabalhos recentes associaram menores concentrações de vitamina D no sangue a uma maior gravidade da doença. “No entanto, são estudos associativos, nos quais não é possível estabelecer uma relação de causa e efeito. Nosso estudo foi conduzido para investigar causalidade – verificar se a alta concentração de vitamina D poderia conferir algum benefício clínico aos pacientes”.

Os participantes do estudo foram divididos em dois grupos aleatoriamente. Assim que chegaram ao hospital, metade recebeu uma dose de 200 mil unidades (UI) de vitamina D3 e a outra recebeu o placebo. O objetivo dos cientistas era investigar, principalmente, se a suplementação poderia diminuir o tempo de hospitalização. Outros fatores analisados foram: mortalidade, necessidade de intubação e a própria concentração de vitamina D no sangue. 

Embora a suplementação tenha de fato sido capaz de aumentar os níveis de vitamina D no sangue, isso não gerou uma resposta clinicamente relevante – não foi observada diferença significativa entre os grupos para nenhum dos desfechos investigados.

Efeito profilático – De acordo com Gualano, é possível que indivíduos que apresentem altos níveis de vitamina D no sangue tenham uma certa proteção contra casos moderados ou graves de COVID-19, mas essa relação ainda precisa ser estudada. “Nós temos estudos em andamento que investigam essa questão, mas de uma maneira também observacional. É difícil estabelecer causa e efeito a partir desse tipo de estudo”, explica o pesquisador.

Para avaliar o efeito profilático da vitamina D, seria preciso aplicar a suplementação em um número muito grande de voluntários, já que não se sabe quem irá se infectar e desenvolver a doença. “A partir disso, os resultados seriam comparados entre aqueles que suplementaram ou não, tiveram a doença ou não, e como a doença evoluiu. Seria um estudo muito complexo que exigiria um investimento bastante significativo”.

Benefícios comprovados – A vitamina D tem um papel importante na manutenção da massa óssea e na modulação do sistema imune. Algumas condições, como envelhecimento, doenças cardiovasculares, câncer e obesidade, são acompanhadas de uma redução na concentração da vitamina. “A recomendação atual é que as pessoas atinjam entre 20 e 30 nanogramas por mililitro no sangue. Para as populações específicas citadas, recomenda-se entre 30 e 60 ng/ml”, afirma Gualano.

Nosso organismo produz a maior parte da vitamina D que necessita, mas para isso é necessária a ajuda dos raios ultravioletas da luz do sol para ativá-la. É indicada a exposição ao sol sem proteção solar pelo menos duas vezes por semana, durante 15 minutos, nos braços e nas pernas. O consumo regular de alimentos como carnes, peixes e frutos do mar também auxilia na manutenção dos níveis de vitamina D.

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