Suplemento nunca compensa
uma dieta deficiente

Para o prof. Bruno Gualano, só os atletas de ponta precisam de suplementação nutricional; um praticante regular de exercícios só terá necessidade de suplementos se tiver a rotina de um atleta.

Você sabia?

A analogia é simples. “O suplemento é a cereja do bolo. Tem de ter bom fermento, boa massa, bons ingredientes – que no caso aqui são atividade física regular, boa alimentação e hábitos saudáveis no dia a dia. Só então, para aqueles que são atletas e dependem de pequenas mudanças no desempenho, entra um suplemento”, resume o pesquisador Bruno Gualano, membro do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Alimentos e Nutrição (NAPAN) da USP e do grupo de pesquisadores colaboradores do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC - Food Research Center).


Gualano vem estudando a suplementação nutricional ligada ao esporte, e alerta: existe uma febre dos suplementos em curso, alimentada pela indústria, que quer vender suplementos para quem não precisa deles. “Por conta dessa forma bastante agressiva da indústria, de querer mostrar que todo mundo precisa de suplementos, as pessoas, em vez de terem melhora na saúde, acabam tendo uma piora. Isso é comum. O sujeito dá uma corridinha, ou caminha, e depois toma um litro e meio de isotônico. Ele vai engordar, mesmo fazendo atividade física.” 

Suplementos

Segundo o professor, no caso dos isotônicos (bebidas à base de água, sais minerais e carboidratos, vendidas em qualquer supermercado e muito consumidas por praticantes de esportes), não há comprovação científica de que sejam superiores à água em capacidade de hidratação. “Nenhum estudo sério diz isso. Existem estudos com o viés do patrocínio da indústria.”

Para Gualano, que também é membro do Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada em Nutrição, Exercício e Genética da USP, a pressão dos fabricantes de suplementos encontra, no potencial público consumidor, um terreno fértil. “As pessoas buscam sempre uma alternativa fácil. Quando procuram uma academia para melhorar o bem-estar e percebem que têm de fazer uma atividade física de maneira regular, que têm de se alimentar de maneira adequada, e que tudo isso tem um preço, pois implica em mudança de estilo de vida, elas desistem. Aí o suplemento surge como pílula mágica.”

Os suplementos mais comuns têm como ingredientes proteínas, carboidratos, cafeína, creatina, bicarbonato de sódio, beta alanina, entre outras substâncias. Muito procurados pelos jovens que frequentam academias são os suplementos ergogênicos (melhoram a capacidade do organismo e são capazes de dar um impulso na performance). Mas Gualano ressalta que a pequena melhora no desempenho que sua ingestão possibilita aos atletas, para quem um milésimo de segundo pode fazer diferença, para os meros mortais praticantes de exercício não significa nada.

“Em primeiro lugar o sujeito deve fazer uma avaliação muito sincera e honesta, e se perguntar: sou um atleta? Tenho a rotina de um? Estou competindo? Tenho objetivos de desempenho? Se ele chegar à conclusão de que treina como um atleta, o segundo passo é procurar um nutricionista que entenda de nutrição esportiva. Ele vai avaliar a dieta da pessoa e vai verificar se há necessidade de suplemento, e de qual tipo”, explica o professor.

Ele afirma que os suplementos nacionais têm um perfil de segurança muito bom, por conta da atuação da ANVISA, mas que existem produtos no mercado negro, permitidos por outros países, que as pessoas conseguem pela internet. “Muitos desses suplementos de fora não são seguros, possuem substâncias nocivas à saúde como a efedrina, que estimula o sistema nervoso central. É proibida e considerada doping. Às vezes, uma quantidade muito pequena de testosterona no suplemento, que nem vai ter efeito fisiológico esperado, aparece no doping. Isso acaba com o atleta e com o nutricionista que prescreveu o suplemento.”
  
Além disso, alerta Gualano, os suplementos podem estar contaminados. “No mundo todo, estima-se que 1 a cada 4 ou 5 suplementos esteja contaminado. Ou de maneira deliberada, quando se acrescenta uma substância que não está no rótulo (mas que tem algum efeito), ou por conta de despreparo no manuseio. Algumas empresas manuseiam suplementos alimentares e fármacos, por exemplo. E aí pode ocorrer contaminação cruzada.”
Bons hábitos e saúde – Em casos extremos, como em idosos que reduzem muito a ingestão de alimentos e sofrem de síndrome de sarcopenia (perda de massa muscular), os suplementos podem ser usados para melhorar a qualidade de vida, ou aumentar os índices de proteínas no organismo, por exemplo. “Mas, mesmo quando usado com fins de melhorar a saúde em pessoas muito fragilizadas, um suplemento nunca compensa uma dieta deficiente.”

Segundo o Bruno Gualano, o Guia Alimentar para a População Brasileira (http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/novembro/05/Guia-Alimentar-para-a-pop-brasiliera-Mio...) é uma boa referência para uma alimentação saudável. “Sabemos que o consumo de alimentos in natura é essencial para uma vida saudável, assim como cozinhar o próprio alimento e reduzir o consumo de industrializados. Não dá para dizer que nossa dieta é muito boa, apesar de ser menos industrializada do que a dos norte-americanos, por exemplo. Quanto à atividade física, a população mundial hoje é considerada insuficientemente ativa. Não atingimos o mínimo recomendado para manter a saúde: 30 minutos por dia, 5 dias por semana, ou 150 minutos por semana.”

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