Quando aplicado na forma correta, o trans-resveratrol pode reduzir a pressão arterial e os níveis de colesterol

Estudo do FoRC mostra que, com a dose adequada, é possível obter os benefícios desse suplemento, mas, apesar da alegação antioxidante estar presente nos rótulos, a maior parte dos estudos clínicos não avalia essa propriedade.

Fronteira do conhecimento

01/06/2023 - Um dos suplementos mais comercializados no mundo, o trans-resveratrol é conhecido popularmente por sua ação antioxidante, anti-inflamatória e inibidora da agregação plaquetária, sendo capaz de reduzir o colesterol, a pressão arterial e, consequentemente, a aterosclerose (acúmulo de gordura nas paredes das artérias). No entanto, de acordo com um estudo do Centro de Pesquisa em Alimentos (Food Research Center - FoRC), ainda são necessários estudos clínicos para realmente atestar seu poder antioxidante. Já os demais efeitos, comprovados cientificamente, dependem muito da forma de administração, ou da dose e tempo de uso.

Publicado na revista Complementary Therapies in Clinical Practice, o artigo de revisão analisou os resultados de 27 estudos clínicos, nos quais foram testados 32 tratamentos diferentes em humanos. Segundo a coordenadora da pesquisa, Inar Castro Erger, pesquisadora associada ao FoRC e professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP), os principais problemas apontados foram a ausência de padronização dos marcadores avaliados e a automedicação, tendo em vista que os suplementos não necessitam de prescrição médica.

“Assim como a maioria dos suplementos, o trans-resveratrol pode ser adquirido nas farmácias sem receita médica, o que leva a maioria das pessoas a não consultar um médico antes de consumi-lo, podendo tornar nulos os benefícios do suplemento, ou consumir os medicamentos com doses e períodos não adequados em relação aos seus objetivos”, afirma Erger. “Além disso, os resultados variam muito de acordo com os protocolos receitados pelos médicos, conforme observamos nos estudos”, complementa.

Protocolos assertivos – Assim, com base na revisão, foram estabelecidos protocolos assertivos. Para tanto, os pesquisadores dividiram os resultados em três grupos, o que acabou separando os estudos de acordo com diferentes protocolos: doses maiores em um período de tempo menor; doses intermediárias por um período intermediário; e doses menores por um período maior de tempo. “Os estudos caracterizados por uma dose média de 454 mg/dia por 74 dias apresentaram maior redução da concentração de triglicerídeos e da pressão arterial, enquanto os que aplicaram doses em torno de 274 mg/dia por cerca de 175 dias e apresentaram aumento de HDL-colesterol [conhecido como colesterol ‘bom’], importante para redução da aterosclerose”, afirma.

“Assim, concluímos que a dose e o tempo de intervenção devem ser definidos por um profissional de saúde de acordo com a necessidade do paciente”, detalha Tamires Santana, mestre em alimentos e nutrição experimental pela FCF-USP e primeira autora do estudo.

Para chegar a essas conclusões, foram analisados estudos que avaliaram vários biomarcadores, que podem indicar a progressão de uma determinada doença. “Utilizamos os biomarcadores porque é muito difícil encontrarmos estudos clínicos que acompanhem os pacientes por longos períodos, o que é necessário principalmente em pesquisas na área de doenças cardiovasculares”, explica a professora.

É antioxidante? - Na pesquisa, foi observada uma incoerência em grande parte dos rótulos de trans-resveratrol. Isso porque é comum que venha indicado, ainda na parte frontal da embalagem, os efeitos antioxidantes do suplemento. No entanto, essa alegação ainda não é clinicamente evidenciada.

“A maior parte dos estudos não avalia biomarcadores de estresse oxidativo, pois isso exige metodologias de pesquisa mais sofisticadas, que muitos grupos não têm acesso. A alegação que as empresas fazem tem como base estudos in vitro, realizados em laboratório, que não são suficientes para atestar essa característica, algo só possível com vários estudos em humanos”, explica Erger.

Quem deve receber? - O trans-resveratrol está presente naturalmente em diversos grupos de alimentos. Alguns possuem o trans-resveratrol em maior concentração, como as cascas de uvas, e o vinho tinto. No entanto, em função do teor alcoólico do vinho, a forma mais recomendada de ingeri-lo é pela suplementação.

Seu consumo é mais recomendado como terapia complementar em pacientes com doenças cardiovasculares ou com risco de manifestá-las e, embora não haja relatos de toxicidade, estudos sugerem que doses acima de 2,5 g/dia podem trazer sintomas gastrointestinais indesejáveis, além de ter um custo elevado.

“O trans-resveratrol não produz os mesmos efeitos dos medicamentos, por isso não deve nunca substituí-los. Entretanto, ao utilizá-lo junto com os fármacos e sob acompanhamento médico de forma individualizada, pode ser possível diminuir a dose de remédios do paciente, e assim reduzir os efeitos adversos do tratamento”, detalha Erger. “Desta forma é mais fácil garantir a adesão do paciente ao tratamento”, acrescenta Santana.

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