Não.
A população brasileira come pouca fibra e vem consumindo cada vez menos,
segundo as últimas estimativas. Mas, de acordo com levantamentos feitos em
outros países, isso não acontece só aqui. Nos EUA, por exemplo, um estudo
avaliou a ingestão de fibras pela população adulta entre 1993 e 2000, e
concluiu que a ingestão média era de 16,7 g/dia para homens e de 15,6 g/dia
para mulheres, quando o ideal é de 25 g.
No Brasil, apesar da disponibilidade de hortaliças, leguminosas, frutas e tubérculos, e da riqueza das dietas locais e regionais, a situação não é diferente – aliás, talvez seja um pouco pior. Uma estimativa comparando a ingestão de fibras nas décadas de 1970, 1980 e 1990, calculada com base nos dados de aquisição de alimentos de pesquisas da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que a ingestão de fibras pela população brasileira caiu tendo como base as refeições feitas em casa: de 19,3 g/dia (1970) e 16,0 g/dia (1980) para 12,4 g/dia (1990).
Mais recentemente, outras duas estimativas, calculadas sobre os dados de aquisição de alimentos das Pesquisas de Orçamento Familiar (POF/IBGE) 2002/2003 e 2008/2009, revelaram que a ingestão média de fibras pela população brasileira foi da ordem de 15,4 g/dia e 12,5 g/dia, respectivamente.
Essas estimativas são de consumo dentro de casa, mas nós sabemos também que fora de casa muita gente come lanches ou salgados, por pressa ou praticidade. Mesmo em restaurantes self-service ou por quilo, onde há várias opções de hortaliças cruas e cozidas, além de feijão, o que se vê é muita gente se servindo de pratos à base de fritura ou molhos em detrimento dos pratos e alimentos fontes de fibra.
“A principal fonte de fibra do brasileiro sempre foi o feijão, porém estamos comendo cada vez menos esse alimento. Preparar feijão demanda tempo, é preciso deixar de molho, o cozimento é demorado, e as pessoas ficam menos tempo em casa. Por outro lado, é um alimento que congela muito bem e boa parte da população tem freezer ou congelador, então daria para preparar porções para vários dias de uma única vez. É preciso estimular o consumo de feijão, por meio de educação alimentar e políticas públicas, bem como o consumo de hortaliças in natura, que também é baixo entre os brasileiros”, defende a pesquisadora Eliana Giuntini, do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC – Food Research Center).
Entre 1975 e 2009 o feijão teve sua aquisição anual reduzida nos domicílios brasileiros em 49%. “A ingestão atual média nacional de fibra alimentar não atinge 50% das recomendações preconizadas pela OMS”, resume a pesquisadora. Ela credita o baixo consumo de fibra, no Brasil, à mudança de hábitos alimentares da população, aliada a alterações no estilo de vida, característica de grandes centros populacionais. “Tanto que São Paulo é o estado com menor ingestão de fibra alimentar no País, e o que teve mais severa redução na dieta domiciliar em 35 anos: de 18,8 g/dia na década de 1970 para 9,5 g/dia em 2008/2009”.
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