É cada vez mais comum encontrarmos, nos supermercados, produtos enriquecidos com ômega 3, bem como cápsulas dessas substâncias, vendidas em qualquer farmácia e até pela internet. Desde que um estudo com inuítes (esquimós), feito na década de 1970, revelou que os remanescentes, com dieta ainda rica em peixes, tinham menos incidência de doenças cardiovasculares do que os inuítes que migraram para as cidades, os ácidos graxos ômega 3 entraram de vez para a farmacopeia popular e sua ingestão passou a ser conectada com a promoção da saúde e do bem-estar.
Entretanto, como ressalta a professora Inar Alves de Castro, doutora em Nutrição Humana Aplicada e pesquisadora associada do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC – FoodResearch Center), não se sabe ainda qual o efeito da ingestão dessas substâncias fora de seus alimentos de origem, em forma de cápsulas ou por meio do enriquecimento de outros alimentos.
“Embora existam mecanismos já bem elucidados sobre a atuação positiva dos ácidos graxos ômega 3 no sentido de redução dos triglicerídeos e das respostas inflamatórias do organismo, é tudo muito novo ainda, e não existe histórico do consumo crônico ou diário dessas quantidades de ômega 3 como suplementação alimentar. Quando os consumimos em seus alimentos de origem, nossa ingestão não é tão elevada. Mas a propagação do consumo como suplementação muda esse cenário”, explica Inar.
Segundo ela, sabe-se que, a curto prazo, os desfechos clínicos têm uma melhora com o consumo de alimentos ricos em ômega 3. “Mas essas conclusões têm como base estudos subjetivos, em que se comparam as populações que consomem mais às que consomem menos, e os eventos cardiovasculares relativos a cada uma. Isso ainda é pouco”, diz.
Inar e sua equipe, composta por três doutorandos, dois mestrandos e dois alunos de iniciação científica, querem saber quais os efeitos, no organismo, da ingestão de ômega 3 como suplementação, e se o seu consumo regular pode ajudar a reduzir a ingestão de medicamentos para doenças cardiovasculares.
Presentes em alimentos como peixes, algas e algumas sementes, como a linhaça, os ácidos graxos ômega 3 são compostos por cadeias longas, insaturadas, altamente suscetíveis à oxidação.
“Quando oxidados, alguns desses ácidos graxos formam compostos potencialmente tóxicos. Como exalam um forte odor, a probabilidade de nos intoxicarmos ao ingerir um alimento oxidado é mínima, porque nossos sentidos nos impedem de comê-lo. Agora, quando ele é colocado em cápsulas, já é consumido com um mínimo de oxidação, que é inevitável. Mesmo que essa oxidação seja pequena, se o suplemento for ingerido de forma crônica, não sabemos o que pode acarretar no organismo. Isso é uma das coisas que queremos saber”, resume Inar.
Reduzir a medicação – A outra questão investigada pela equipe de Inar diz respeito ao uso desses ácidos graxos, em forma de suplementos, em conjunto com medicamentos para doenças cardiovasculares como a aterosclerose, por exemplo.
“Queremos saber se uma suplementação com ômega 3 poderia contribuir para reduzir a dosagem e a quantidade de remédios que as pessoas que sofrem de doenças cardiovasculares ingerem.”
A equipe vai agora tentar introduzir, em dietas de pessoas com problemas cardiovasculares, uma suplementação com cápsulas de óleo de peixe, esteróis vegetais inseridos em chocolate e chá verde, ao mesmo tempo em que reduz a dosagem de medicamentos para doenças cardiovasculares e tenta manter normais parâmetros como LDL, colesterol, etc.
“Nos preocupa o que chamamos de efeito cascata de remédios: as pessoas com problemas cardiovasculares tomam medicamentos fortes, algumas têm reações adversas e então têm de ingerir outros medicamentos para cortar essas reações. Se a ingestão de complementação com ácidos graxos ajudar a cortar esse ciclo, sem que a oxidação provocada por essa suplementação provoque um efeito negativo a longo prazo, é possível que tenhamos encontrado um caminho”, espera Inar.
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