Embalagens híbridas são aposta no curto prazo

Pesquisadores da Poli/USP trabalham para criar uma embalagem híbrida, composta por biopolímero e polímeros tradicionais, que teria menor impacto ambiental ao ser descartada.

Fronteira do conhecimento

Enquanto as embalagens produzidas de biopolímeros não chegam às prateleiras, os pesquisadores do Laboratório de Engenharia de Alimentos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (LEA/Poli/USP) tentam criar um material híbrido, composto por biopolímero e polímeros tradicionais, que teria menor impacto ambiental ao ser descartado.

“No meu pós-doutorado, estou trabalhando com duas misturas: 70% de polipropileno e 30 % de amido de babaçu; e 60% de polipropileno e 40% de amido de babaçu”, conta Bianca Chieregato Maniglia, pós-doutoranda do LEA. Segundo ela, a ideia é manter as propriedades do polipropileno e deixar esse material parcialmente biodegradável, reduzindo em 30%, 40% o lixo descartado em aterros. “Parte do material poderá ser consumido pelos micro-organismos”, afirma.

“Trata-se de uma alternativa emergente, enquanto não se consegue produzir embalagens completamente biodegradáveis resistentes à água.” E os resultados têm sido animadores, pois o material feito com as proporções de 70% de polipropileno e 30% de biopolímero já mostrou que tem condições de competir com o plástico convencional.

Você sabia?

Até hoje não foi desenvolvida nenhuma tecnologia de embalagem plástica que resulte em um material 100% biodegradável. Bianca explica que as soluções obtidas resolvem o problema de forma parcial. “Há os compostáveis, que conseguem se biodegradar muito bem, mas em condições ideais de compostagem, com temperatura, quantidade de micro-organismos e umidade adequadas. Não é somente dispensar na natureza.”

Há ainda os chamados “polímeros verdes”, como o polietileno verde, que ganhou muito espaço na mídia. “Ele resolve um grande problema, que é nossa dependência de petróleo. É feito, por exemplo, a partir de cana-de-açúcar. Entretanto, as características são idênticas às do plástico convencional: é maleável, resistente à água, mas não se biodegrada, mesmo sendo feito de fonte renovável”, conta. Ela lembra que, no caso deste material, houve uma transformação química. O biopolímero foi modificado quimicamente: não está presente no produto na mesma forma em que ocorre na natureza.

Outro exemplo é o PLA, um plástico de amido. “Aqui ocorre também uma modificação química: o amido foi transformado em ácido lático, que gerou monômeros, que foram transformados no PLA. Novamente temos um plástico proveniente de fonte renovável, com as mesmas características do convencional, incluindo a não degradabilidade.”

E há ainda os oxibiodegradáveis, cujo apelo é a degradação com o oxigênio. “Mas na verdade o oxibiodegradável é um problema sério para o ambiente. Conforme vai passando o tempo, as partículas da embalagem vão diminuindo. Ela não se biodegrada, o que acontece é que a estrutura se rompe em pedaços bem pequenos. Essas partículas pequenas entram no solo, na água, nos micro-organismos, e não sabemos as consequências. É uma outra ilusão de que estamos resolvendo o problema.”


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