01/06/2021 - As latas de alumínio são vantajosas por serem leves, resistentes e apresentarem uma barreira eficiente ao oxigênio, à umidade e à luz – fatores que podem degradar os alimentos durante o período de estocagem, afetando sua qualidade sensorial e nutricional. Essas embalagens também possuem um alto índice de reciclagem no Brasil, chegando a 97,4% em 2020. No entanto, as indústrias de alimentos e embalagens ainda enfrentam um sério problema com esse material: a corrosão.
Esse fenômeno não afeta diretamente a saúde do consumidor, já que costuma ocorrer de forma acelerada antes do produto chegar aos pontos de venda, resultando na perfuração da embalagem e perda do produto. Mesmo quando há interação entre o produto e a embalagem, a migração do alumínio para a bebida é muito baixa, geralmente inferior a 1 mg de alumínio por litro de bebida, não prejudicando a saúde do consumidor. A Food and Agriculture Organization (FAO) da ONU afirma que é segura a ingestão de até 2 mg de alumínio por quilo corpóreo por semana. Por outro lado, a corrosão pode provocar um desperdício de até 30% dos produtos, além de ter um grande impacto financeiro e ambiental, visto que há um alto custo energético e uso de recursos hídricos envolvidos na cadeia de produção.
Para ajudar a enfrentar esse problema, pesquisadores buscam novas estratégias para aumentar a resistência do alumínio à corrosão. Em um estudo do Centro de Tecnologia de Embalagem (CETEA) do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), pertencente à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, cientistas investigaram os processos de interação entre as bebidas e as embalagens. Latas de alumínio foram analisadas em relação à presença de elementos químicos no alimento que aceleram o processo de corrosão (cloreto e ferro, em concentrações compatíveis com as encontradas em bebidas) e à presença de porosidade na camada de verniz interno (relacionada à exposição do alumínio à bebida).
“Nossos resultados mostraram que, independentemente das condições usadas, ocorreram danos aleatórios nos materiais, mostrando que a combinação dos elementos químicos não é fator determinante na corrosão das latas”, afirma a engenheira de alimentos Beatriz Maria Curtio Soares, coordenadora da pesquisa. A partir disso, o grupo levantou três hipóteses que explicariam a ocorrência da corrosão: (1) diferença de composição da liga de alumínio; (2) desempenho do verniz interno que recobre o alumínio; e (3) possibilidade de interação da bebida com o verniz, permitindo a permeação do líquido pelo revestimento e ataque à superfície metálica.
Segundo a pesquisadora, o estudo indica que a corrosão é provavelmente decorrente da combinação de possíveis defeitos do material. “Esse conhecimento colabora para que a indústria de embalagem possa trabalhar na melhora do desempenho do revestimento interno e da liga de alumínio usados na fabricação, de modo a minimizar a ocorrência de perdas de embalagem e de bebidas acondicionadas”.
Como ocorre – Embora o alumínio apresente boa resistência à corrosão de modo geral, sua resistência é menor quando exposto a um ambiente ácido (pH abaixo de 4), condição na qual se encontram muitos alimentos e bebidas. Segundo a engenheira de alimentos Beatriz Soares, outro fator crítico para a corrosão do material é a presença de cloretos – elemento também muito encontrado em alimentos, por estar presente no sal e na água usada no processo de produção.
“O alumínio em contato com o oxigênio forma naturalmente uma camada de óxido de alumínio, fenômeno chamado de passivação, que protege da corrosão o alumínio base da estrutura. Em condições de baixo pH e na presença de cloretos, a dissolução da camada de óxido de alumínio é favorecida. Assim ocorre a sua dissolução para o meio aquoso e, consequentemente, a corrosão do alumínio”, explica a pesquisadora.
Reação em cadeia – Para evitar a corrosão, as embalagens de alumínio sempre apresentam uma camada interna de verniz, que minimiza a interação entre os alimentos e bebidas e o metal. Entretanto, essa camada pode apresentar pequenos pontos de porosidade, relacionados ao próprio processo de fabricação da embalagem, possibilitando o contato do produto diretamente com o metal e consequente corrosão e perfuração das latas.
“Uma lata que vaza no interior de um palete em centros de distribuição dificilmente será vista e permanecerá por um tempo perdendo o produto acondicionado. No caso de bebidas isso é bem crítico, pois o líquido que vaza entra em contato com o lado externo das latas adjacentes, causando uma corrosão de fora para dentro”, afirma Soares. Como a proteção do exterior das latas é diferente daquela no interior, a corrosão acontece rapidamente, desencadeando um processo de vazamento em cadeia e corrosão de latas vizinhas. “Há registros de perda de cerca de 30% de produção em consequência desse fenômeno”, completa.
Geralmente, quem arca com esse prejuízo é a indústria de embalagens e, às vezes, a de alimentos, segundo a pesquisadora. “No entanto, em alguns casos a corrosão pode até refletir no preço do produto final, se considerarmos a sua ocorrência com pequenos envasadores, que possuem menor capital e margem para esse tipo de problema”.
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