Como são obtidos os óleos essenciais e para que servem

De alimentos a desinfetantes, óleos essenciais estão presentes em vários produtos que consumimos diariamente

Você sabia?

Os óleos essenciais servem para muitos propósitos e são utilizados em diversos setores – desde a indústria alimentícia até a cosmética, passando pela indústria química e farmacêutica. Sabe aquele cheirinho cítrico que boa parte dos desinfetantes têm? Pois é. Ele é resultado do uso de óleos essenciais na formulação dos produtos de limpeza. Outro exemplo: o suco de laranja de caixinha, que passou por pasteurização, também leva óleo essencial de laranja antes do envase, para ter de volta parte das propriedades aromáticas perdidas com o processamento térmico.

Compostos por substâncias voláteis, os óleos essenciais podem ser sintetizados em diferentes partes da planta como brotos, flores, folhas, caules, galhos, sementes, frutos, raízes, madeira ou casca. O método mais utilizado no mundo para extração de óleos essenciais é a destilação a vapor. Nela, o vapor d’água passa pelos tecidos da matéria prima vegetal e extrai o óleo “por arraste”. O extrato bruto obtido é exposto diversas vezes a solventes orgânicos, posteriormente removidos, até a obtenção do produto final.

“A denominação essencial está conectada à volatilidade: os óleos essenciais são aqueles que possuem substâncias voláteis em sua composição. Há os óleos essenciais mais ricos em hidrocarbonetos terpênicos e aqueles que têm mais compostos oxigenados”, explica a engenheira de alimentos Cristina Chiyoda Koshima, pós doutoranda ligada ao Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC – Food Research Center), que trabalhou com óleos essenciais no período de 2009 a 2015, na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP (FZEA).

Segundo ela, de acordo com o uso que vai fazer desses óleos, a indústria pode requerer um produto “customizado”, ou seja: mais ou menos rico nas substâncias que ela necessita. Para isso, é necessário concentrá-las, e esse processo começa com a separação das fases dos óleos essenciais.

Os que são muito ricos em hidrocarbonetos são mais suscetíveis à degradação por oxidação e, quando eles se degradam, podem exalar um odor diferente do natural. Para melhorar a qualidade desses óleos e seu aproveitamento pela indústria, o que se faz é separá-los em duas frações (ou fases): uma rica em oxigenados e outra rica em hidrocarbonetos.” 

Sob medida – A engenheira de alimentos diz que os dois produtos resultantes são usados para propósitos diferentes pela indústria. “A fase rica em hidrocarbonetos é usada em produtos que têm valor agregado mais baixo: produtos de limpeza, desinfetantes... Um bom exemplo é aquele inseticida que alega ter óleo essencial de laranja na fórmula. O que o produto tem é o limoneno, um hidrocarboneto terpênico presente em enorme quantidade no óleo de laranja: quase 95% desse óleo é composto por limoneno. Dos 5% restantes, ao menos 4% é linalol, que é um oxigenado. O limoneno tem algumas propriedades antibacterianas, por isso é muito usado em produtos de limpeza e semelhantes.” 

Já os oxigenados são mais usados na indústria alimentícia e em perfumaria e cosmética. “O linalol é um componente comum no rótulo de qualquer perfume. Além da fragrância, ele é um fixador também, e o perfume é um produto que o consumidor usa por longos períodos de tempo: não seria aconselhável usar em grande quantidade um hidrocarboneto como o limoneno na fórmula, por conta da maior suscetibilidade deste composto à degradação. Com relação aos alimentos, a mesma coisa: o consumidor não quer que o aroma se descaracterize, e os oxigenados são os principais responsáveis pelo aroma. Alguns hidrocarbonetos terpênicos nem sequer têm aroma. O limoneno é uma exceção, mas o linalol tem aroma muito mais forte”, revela Cristina.

Há diferentes métodos para separar as fases dos óleos essenciais, como a destilação (os componentes que não interessam vão sendo retirados até ficar só o que interessa); ou o uso de CO2 supercrítico (mesma técnica utilizada para descafeinar o café). Cristina trabalhou, durante seu mestrado e doutorado, com um método ainda pouco explorado pela indústria: uma coluna de extração líquido-líquido.

“Eu usei o etanol como solvente, pois ele se liga preferencialmente aos compostos oxigenados: quando coloco misturas de etanol e água no óleo essencial, obtenho duas fases: a de cima tem bastante hidrocarbonetos, com um pouco do solvente. A de baixo tem bastante solvente, com os oxigenados.”

Cristina explica que a técnica da coluna líquido-líquido é a concorrente da tecnologia que utiliza o CO2 supercrítico. De acordo com ela, o investimento na planta líquido-líquido é menor se comparado ao montante necessário para uma planta de CO2 supercrítico. “As plantas de CO2 supercrítico trabalham com altas pressões, mas têm uma vantagem: o CO2 se volatiliza após a despressurização, podendo ser recuperado e voltar para o processo. No nosso caso, trabalha-se com pressões mais baixas, mas o solvente que fica nas fases precisa ser retirado depois. Ele também pode ser reaproveitado no processo, mas retirar esse solvente das fases é uma etapa a mais.”

Segundo ela, essa “etapa a mais” pode ser desnecessária se o uso da fração rica em solvente (etanol, no caso) for feito em produtos que já contêm álcool. "No caso dos óleos essenciais, algumas das aplicações se dão em produtos que já estão diluídos em álcool, como perfumes, por exemplo. Então, seria possível usar este extrato sem tirar o etanol. Tudo depende da aplicação. As melhores aplicações de produtos obtidos pela tecnologia líquido-liquido seriam na perfumaria e na indústria alimentícia, pois o etanol tem grau alimentício. Outros casos: alimentos que vão passar por processos térmicos. Nestes casos, o etanol vai se volatilizar sozinho. Ou, ainda, a aplicação em um licor de laranja, por exemplo, em que se pode usar a fração com etanol.”

Curiosidades:
1 – Os óleos essenciais são formados por compostos voláteis presentes nas plantas, e essas substâncias podem ter papel importante tanto na atração de polinizadores quanto na proteção contra predadores. Já os óleos vegetais são lipídios extraídos de plantas, muitas vezes de suas sementes, e muito usados em produtos alimentícios. Há frutos que não têm óleo essencial, mas que podem ser fontes de óleos vegetais, como o abacate ou o coco. 

2 – A indústria de alimentos tem dado preferência aos óleos essenciais em lugar das especiarias originais. Segundo Cristina, os óleos têm a mesma função das especiarias –realçar o sabor, o odor, o aroma – mas têm potencial de proteção microbiológica bem maior e são mais fáceis de quantificar na formulação. Bons exemplos são os óleos de orégano e cravo.

3 - Nos frutos cítricos o óleo essencial está sempre na casca.

4 – Para um óleo essencial ser considerado concentrado e, assim, obter valor comercial diferenciado, deve apresentar uma concentração mínima da substância desejada. Normalmente, os compostos oxigenados devem concentrar cinco vezes a composição original no óleo bruto. Assim, qualquer novo processo de concentração, para ser viável economicamente e compatível com o que já é oferecido pelo mercado, deve ter a capacidade de concentrar pelo menos cinco vezes esses compostos.

Imagem: Pixabay/Image by Monfocus

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