Como diminuir a obesidade infantil em tempos de COVID-19

Artigo mostra que o período da quarentena pode trazer tanto benefícios como prejuízos à saúde, dependendo das atitudes das famílias do ponto de vista nutricional.

CORONAVÍRUS

Profª. Dra Silvia Maria Franciscato Cozzolino
Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP
Profª. Titular e Pesquisadora Associada do FoRC, na área de Nutrição - Minerais.

14/04/2020 - A obesidade é considerada uma doença inflamatória de baixa intensidade, multifatorial, e tem aumentado significativamente nos últimos anos com todas as comorbidades a ela associadas, como hipertensão, resistência a insulina e diabetes, doenças cardiovasculares e cânceres. A obesidade infantil é ainda mais preocupante, considerando que os hábitos alimentares e o sedentarismo na infância estão entre os principais fatores para o seu desenvolvimento, elevando a probabilidade dessa criança se tornar um adulto obeso.

Na atualidade já se tem conhecimento que a alimentação da gestante rica em gorduras, pobre em proteínas, minerais, vitaminas e compostos bioativos, pode ser um fator de risco para doenças crônicas no seu concepto (devido ao chamado programing, que dependendo da dieta pode levar a mudanças epigenéticas no feto, favorecendo essas doenças). Por outro lado, estudos têm mostrado que a alimentação adequada da criança desde o nascimento até os 1000 dias, pode trazer benefícios à saúde.

Cada vez mais, tem ficado evidente a importância da alimentação para a saúde. Entretanto, o objetivo deste artigo é mostrar como o período de quarentena devido à COVID-19, pode trazer tanto benefícios como prejuízos à saúde, dependendo das atitudes das famílias do ponto de vista nutricional.

Em geral, no mundo de hoje, é comum os pais trabalharem fora do lar e a responsabilidade pelas compras e preparo dos alimentos serem relegadas a terceiros, que na maior parte das vezes não têm formação suficiente para selecionar os alimentos mais saudáveis. Assim, essa é uma oportunidade única para os pais avaliarem os hábitos alimentares das crianças e da própria família, verificando o tipo de alimentos preferidos, as preparações, e se existe ou não a necessidade de mudanças de hábitos. Caso haja a presença de sobrepeso ou até mesmo obesidade, essa seria uma oportunidade única para reflexão sobre o tipo de alimentação da família.

Outro problema que pode ser relevante nesse período para o ganho de peso, é a dificuldade em realizar atividade física regular, o que pode ser contornado com o estabelecimento de uma rotina, reservando um tempo para práticas de exercícios físicos monitorados, por exemplo, por meio do uso de aplicativos da internet.

O lado bom dessa situação é que, com a maior proximidade da família, há espaço para abordar questões de saúde relacionadas ao consumo de alimentos mais saudáveis. Inovar nas preparações para torná-las mais apetitosas, conversar com as crianças sobre preferências alimentares, discutir receitas para serem elaboradas em conjunto e motivá-las a experimentar novos sabores são algumas das possibilidades.

Sabemos que não é uma tarefa fácil. Em geral, hábitos inadequados são difíceis de serem mudados. Muitas crianças e adolescentes abusam de alimentos e bebidas ricos em açúcares e gorduras, que fornecem calorias desprovidas de nutrientes, e raramente consomem frutas, verduras e legumes. Lanches são comuns, substituindo refeições. Snaks à frente da TV, uso exagerado de tablets e celulares, com praticamente nenhuma atividade. Estabelecer rotinas é fundamental, pois as crianças necessitam de ter horários para poderem se concentrar em suas atividades, tanto de estudo à distância como no tempo para atividades mais divertidas, que não levem à ansiedade e, consequentemente, ao maior consumo de alimentos.

Sem dúvida, esse período é muito difícil também para os pais, considerando que também necessitam de tempo para o seu trabalho (home office), e na maioria das vezes não contam com auxílio para os serviços básicos, como na manutenção da limpeza da casa e no preparo das refeições.

Nessas condições, podemos perceber que, ao final da pandemia, houve um aumento da obesidade e que essa situação no futuro será mais difícil de ser revertida. Portanto, o ideal é que haja conscientização dessa problemática e aproveitar esse período para promover mudanças, tais como:

1) Disponibilizar em casa alimentos mais ricos em nutrientes, como frutas, legumes e verduras;

2) Dar ênfase a alimentos básicos como carnes, leite e derivados, cereais integrais (arroz, trigo, milho),        leguminosas (feijão, lentilha, grão de bico);

3) Nas compras de alimentos, promover maior diversidade de itens, evitando uma alimentação monótona;

4) Evitar lanches ricos em gorduras e bebidas açucaradas;

5) Evitar doces, bolos, sorvetes; 

6) Evitar o sal de adição;

7) Perceber se a quantidade de alimentos oferecida está em excesso;

8) A hidratação é muito importante, consumir de 30 a 40mL/ por kg peso corporal ao dia.

Esses são princípios básicos. Para um diagnóstico nutricional e uma orientação mais personalizada, consultem um nutricionista que poderá a partir do seu hábito alimentar sugerir as melhores opções para uma vida com mais saúde.

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