Uvaia, cambuci, cereja do Rio Grande e grumixama. Guarde na memória os nomes desses frutos nativos da Mata Atlântica. No futuro, eles poderão ser vendidos nas gôndolas dos supermercados graças a um projeto de pesquisa que pretende fazer a caracterização genéticas dessas espécies, além de encontrar meios de produzi-los em larga escala e viabilizar sua comercialização, e do qual participam pesquisadores do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC – Food Research Center).
O projeto, coordenado pelo professor Angelo Pedro Jacomino, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), está sendo financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). E envolve uma equipe multidisciplinar, do FoRC e de outras instituições, em áreas como ciências farmacêuticas e de alimentos, bioquímica, biotecnologia, fisiologia, fitotecnia e tecnologia pós-colheita.
“Esperamos que o conhecimento produzido por nossas pesquisas motive produtores agrícolas e empresas do setor a trabalharem no desenvolvimento de tecnologias para produção”, diz Jacomino. “Além, é claro, de despertar o interesse do consumidor”, acrescenta. O projeto aprovado pela Fapesp terá duração inicial de cinco anos, porém trata-se de um tema que não se esgotará neste período, e que deverá continuar a ser estudado ao longo dos anos.
A pesquisa começa localizando exemplares presentes na Mata Atlântica, em bancos de germoplasma e em pequenas propriedades rurais, por exemplo, para fazer a caracterização. “As amostras recolhidas serão georreferenciadas e identificadas. Os exemplares que se destacarem em termos de sabor, rendimento e presença de compostos bioativos, serão multiplicados, de forma a ter matrizes com as características mais interessantes para produção e comercialização, resultando em banco de germoplasma específico desses frutos”, explica.
O grupo de cientistas também vai realizar pesquisas voltadas para a pós-colheita. “Precisamos conhecer os processos que envolvem a conservação deles in natura e na forma de polpa. “Não podemos pensar em desenvolver uma cadeia produtiva se não tivermos isso em mente”, comenta.
Alimentos funcionais – A seleção dos frutos uvaia, cambuci, cereja do Rio Grande e grumixama não foi casual. “Acreditamos que são plantas que têm potencial para se tornarem comerciais em razão do que já sabemos sobre suas qualidades, muitas delas com propriedades funcionais”, diz Jacomino. A grumixama, por exemplo, possui elagitanino, substância com potencial para ajudar no tratamento de um tipo de câncer de mama.
Além disso, o projeto pretende contribuir para criar uma cadeia de produção sustentável do ponto de vista ambiental e socioeconômico. “São plantas que podem ser cultivadas em sistemas agroflorestais, nas proximidades da mata, preservando a vegetação, além de gerar renda para os agricultores que estão nas áreas da Mata Atlântica e usam o sistema extrativista de produção”, finaliza.
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Imagem: Divinomar Severino/Wikipedia Commons
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