Ao olhar uma laranja numa gôndola de supermercado ou na feira, a primeira coisa que chama a atenção é o brilho. Isso se deve à aplicação de uma cera especial, feita antes da fruta ser embalada e enviada para o varejo. E se engana quem pensa que essa cera é um ‘truque’ para tornar o produto mais apetitoso e vender mais: sua principal função é a de proteção, atesta o engenheiro agrônomo Diego Chiou, gerente de contas da Aruá, empresa sediada em Matão, interior de São Paulo, que trabalha com tecnologias de pós-colheita e produz a cera para a aplicação.
“A aplicação da cera é um tratamento feito após a colheita da fruta, e basicamente é um produto de origem vegetal, pois é composta por carnaúba e resina vegetal. Ela não é um defensivo químico”, explica. Segundo ele, as ceras são utilizadas para proteger e conservar a fruta. “Mesmo depois de colhida, ela continua respirando e transpirando, e assim, perde água. A cera é aplicada para retardar esse processo de perda de peso e, por consequência, fazer o produto chegar fresco à mesa do consumidor”, explica.
Resumindo: o processo é necessário para manter a qualidade da fruta. “Uma laranja produzida em São Paulo pode demorar quase duas semanas para chegar aos consumidores em Manaus, no Amazonas, por exemplo. Precisamos prolongar o tempo de vida útil do fruto, evitando que ele estrague rapidamente”, diz Chiou.
As frutas produzem uma cera natural para protegê-las, mas ela é eliminada no processo de beneficiamento após a colheita, quando passam por lavagens com detergente e cloro para eliminar os defensivos agrícolas e sujeira do campo. Por isso, os produtores precisam repor a cera artificialmente, na forma de uma película protetora brilhosa. Além de impedir parte da perda de água, a cera também protege a fruta contra o ataque de fungos que se encontram no ambiente.
O consumo de frutas que passaram pela aplicação de cera não prejudica a saúde humana. Esse produto é regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que estabelece os componentes que podem ser utilizados. “A aplicação é feita só na casca, não penetra na fruta e não atinge a polpa”, esclarece.
“É importante ressaltar que as ceras usadas no Brasil vêm de matérias-primas vegetais e que são aprovadas pelo Ministério da Agricultura, por não apresentarem risco ao consumidor. Ou seja, o consumidor não precisa se preocupar caso a cera passe para um suco como, por exemplo, aquele feito em máquina de prensagem”, reitera o professor Eduardo Purgatto, coordenador de Educação e Difusão do FoRC.
Além disso, a cera não deixa sabor na fruta. “Em algumas variedades de tangerinas, se a escolha do tipo de cera não for adequada, pode resultar na alteração do sabor da polpa, por conta de sua fermentação. Isso ocorre devido à sensibilidade dessa variedade sob condições de um recobrimento excessivo por ceras mais concentradas em sólidos”, acrescenta Chiou.
O Brasil importou a tecnologia de aplicação da cera da Espanha, um dos principais exportadores de frutas do mundo e que domina as tecnologias de pós-colheita de citros. Mas utiliza uma matéria-prima diferente no processo. “Aqui, basicamente utilizamos cera feita a partir da carnaúba ou da resina vegetal extraída do pinus”, explica. Existem outros tipos de cera, como a microcristalina, a goma laca e a de polietileno, mas essas são mais usadas por países europeus.
Em geral, para uma tonelada de fruta, se usa um litro de cera, que é mais utilizada nas frutas cítricas, mas também pode ser aplicada em mamão e manga, por exemplo. As maçãs, que costumam ser vistas muito brilhantes nas feiras e supermercados graças à cera, são provenientes de outros países, especialmente da Argentina e Estados Unidos. Segundo Chiou, os produtores brasileiros dessa fruta não incorporaram, de forma ampla, a aplicação de cera em sua produção.
Imagem: Marcos Santos/USP Imagens
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