Café robusta amazônico ganha destaque com ajuda da Embrapa

Com nuances de chocolate, castanhas, frutas secas e especiarias, o café une tecnologia, qualidade e sustentabilidade, com a colaboração de pesquisadores da Embrapa.

Você sabia?

12/03/2021 - Se você é amante de café, precisa conhecer o robusta amazônico, que nos últimos anos vem conquistando concursos e novos consumidores com os sabores da floresta, seu corpo aveludado e retrogosto marcante, doçura natural e acidez sutil. Cultivado por famílias indígenas e descendentes de mineiros, capixabas e paranaenses, o café robusta é produzido no estado de Rondônia, quinto maior produtor de café do Brasil e responsável pela produção de 97% do café da Amazônia.

Os robustas amazônicos vêm do cruzamento natural das variedades botânicas conilon e robusta, da espécie canéfora. Nessas plantas híbridas, predominam as características do robusta. “Ao longo de quatro décadas de seleção, prosperaram os cafeeiros ‘arrobustados’, que possuem porte alto, alta produtividade, frutos grandes e excelente qualidade de bebida”, afirma Enrique Alves, agrônomo e pesquisador da Embrapa Rondônia. Segundo ele, se comparados às plantas de café arábica, por exemplo, os robustas são mais vigorosos, produtivos e resistentes a doenças, como nematoide e ferrugem, e a pragas como bicho mineiro.

Os frutos do robusta em processamento natural têm características de chocolate, nibs de cacau e castanhas. Alguns grãos possuem características mais exóticas, com acidez frutada, florais e especiarias. Já os robustas submetidos à fermentação positiva apresentam maior acidez e nuances de doce de leite, vinho, licor e frutas secas, que variam em diversidade e intensidade.

Melhoramento genético – Estudos realizados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) têm contribuído para o melhoramento genético, controles alternativos de pragas e doenças, novos arranjos espaciais e novos protocolos para melhoria da qualidade da bebida. Em quase vinte anos, a produtividade evoluiu de 8 para 38 sacas por hectare. Entre as contribuições, se destacam o desenvolvimento de clones híbridos de alto rendimento e qualidade, novos protocolos de degustação e valorização da qualidade dos cafés e sistemas sustentáveis de produção.

“A região Matas de Rondônia, onde o robusta é produzido, está na fase final do processo de reconhecimento como região de excelência em produção de cafés robustas finos. Coube à Embrapa comprovar cientificamente que existiam grãos com alta qualidade de bebida vinculados ao terroir amazônico”.

Impacto ambiental, social e cultural – A resistência dos robustas amazônicos diminui a necessidade do uso de agrotóxicos, enquanto a sua alta produtividade garante renda e qualidade de vida aos produtores, explorando pequenas áreas. São cerca de 17 mil famílias que cultivam, em média, 4 hectares de lavoura. “Tudo isso garante menor pressão sobre a floresta para obter renda, pois o café apresenta alta rentabilidade por área quando comparado a culturas mais extensivas”, explica o pesquisador.
Os cafeicultores têm investido em novas tecnologias, do plantio à colheita, que aumentam a produtividade e a qualidade da bebida. De acordo com Alves, são técnicas que envolvem genética de plantas, irrigação, conservação da fertilidade do solo e manejo integrado de pragas e doenças. “A transferência de tecnologias de pós-colheita transformou os cafeicultores indígenas em produtores de cafés especiais. Estes cafés são comercializados no âmbito do Projeto Tribos, que visa a preservação da floresta, o protagonismo indígena e a qualidade do café”.

Iniciativa do grupo 3 Corações em parceria com a Embrapa Rondônia, o Projeto Tribos comercializa microlotes de cafés robustas produzidos por famílias indígenas. Os microlotes participam do Concurso Tribos, que ocorre anualmente e seleciona os dez melhores lotes, com premiações de R$ 5.000,00 a R$ 25.000,00. O café Microlote Tribos 100% Robusta Amazônico possui notas sensoriais de frutas secas, chá preto, castanhas e chocolate amargo.

Para o agrônomo Enrique Alves, as pesquisas comprovam que os cafés da espécie canéfora, antes considerados produtos de “segunda linha”, também têm qualidade quando submetidos a uma pós-colheita adequada. “Novas formas de processamento dos frutos, como os processos de fermentação positiva, preconizados pela Embrapa e parceiros, tem trazido novos perfis sensoriais aos cafés canéforas”. Além disso, os estudos têm mostrado que é possível produzir sem agredir o ambiente e garantir a qualidade de vida no campo.

Saiba mais
Recentemente, a Embrapa lançou o documentário “Robustas Amazônicos - Aroma, sabor e histórias que vêm das Matas de Rondônia”, que aborda a história do café robusta e a vida de seus produtores. Conheça as tecnologias que alavancaram a sua produção e o tornaram referência em qualidade e sustentabilidade, valorizando e preservando a cultura local.

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