Biodiversidade brasileira pode ser chave para uma alimentação mais saudável

Em evento internacional, pesquisadora do FoRC falou sobre a composição nutricional da biodiversidade brasileira e o objetivo de promover novas políticas públicas de nutrição.

Educomunicação

A nutricionista Kristy Soraya Coelho, pesquisadora do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC – Food Research Center), foi convidada para falar sobre a relevância dos dados de composição química de alimentos da biodiversidade brasileira e apresentou a palestra "Biodiversity food database - an important tool to promote food alternatives in Brazil" no evento “2nd Webinar on Revolutions in Renewable Energy in 21st Century”, da Innovinc International. Única participante da América do Sul, a cientista falou sobre a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TBCA) do FoRC e a importância da biodiversidade brasileira na promoção de uma alimentação mais saudável e rica em nutrientes.

A TBCA sempre contemplou dados da biodiversidade brasileira, incluindo informações sobre diferentes cultivares e variedades. Na última atualização da tabela, lançada em setembro de 2020, foram adicionados mais dados analíticos sobre alimentos da nossa biodiversidade, além de pratos típicos de diferentes regiões do país, englobando informações de 1.300 alimentos. Segundo a pesquisadora, o objetivo é incentivar o conhecimento da composição nutricional dos alimentos no Brasil e utilizá-lo em políticas públicas sobre alimentação. “Explorar a biodiversidade local pode ser mais interessante – e mais barato – do que investir em biotecnologia e organismos geneticamente modificados, mas para isso é preciso conhecer a composição química dos alimentos que a integram”, avalia.

Durante a compilação de dados, os pesquisadores identificaram, por exemplo, que a polpa do caju e da mangaba, frutas típicas do Nordeste brasileiro, e o camu-camu, fruto da região amazônica, possuem mais vitamina C do que as laranjas. Camu-camu é o mais rico no nutriente, com 2.300 mg/100g, seguido do caju (264 mg) e da mangaba (73,4 mg). Ao fazer comparações com outros alimentos tradicionais, como o espinafre – geralmente citado como fonte de cálcio (90 mg/100 g de folha crua) –, o grupo encontrou algumas folhas cruas contendo mais cálcio, como a vinagreira (407 mg/100 g), da Amazônia, e a ora-pro-nóbis (470 mg/100g), encontrada no Sudeste e no Nordeste.

Kristy Coelho explica que a diversidade de fontes alimentares teve uma redução significativa nos últimos 50 anos – 90 % da dieta mundial é obtida de apenas 94 diferentes espécies de cultivo, segundo um estudo do pesquisador Colin Khoury, do Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT, na sigla em inglês) da Universidade de Saint Louis. “Novas estratégias são necessárias no setor de agricultura para aumentar não só a quantidade de alimentos produzidos, mas também aumentar a diversidade de alimentos e nutrientes disponíveis”, afirmou em sua apresentação.

Ela acrescenta que o conhecimento sobre a biodiversidade brasileira pode estimular o consumo desses alimentos, gerar renda para pequenos produtores e garantir a segurança alimentar para os grupos menos privilegiados. “Nós conhecemos muito pouco sobre a nossa biodiversidade. Talvez as deficiências nutricionais da população possam ser minimizadas a partir desse conhecimento”.



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