As vitaminas são micronutrientes essenciais para a saúde: ajudam a fortalecer o sistema imune e garantem o funcionamento correto do metabolismo. No caso das gestantes, a vitamina B9 (ou folato) tem um papel muito importante, pois auxilia nos processos de replicação celular – fundamentais para o desenvolvimento embrionário – e para a formação de células e proteínas do sangue. Por esse motivo, é indicada a suplementação com ácido fólico, forma sintética da vitamina produzida em laboratório. De acordo com a Anvisa, a recomendação de consumo diário para as grávidas é de 355 µg.
Com o objetivo de ampliar as opções de alimentos suplementados com folato, duas pesquisadoras do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC – Food Research Center) conseguiram desenvolver produtos que contêm até 20% da necessidade diária desse nutriente, utilizando a sua forma natural em vez da sintética. Isso porque o consumo excessivo de ácido fólico está associado a alguns efeitos indesejados, como mascarar a deficiência de vitamina B12. A descoberta tardia dessa deficiência pode levar a pessoa a ter problemas neurológicos e anemia.
“O que está descrito na literatura é que, pelas formas naturais da vitamina, não existe esse problema. Mas a forma sintética demora mais para ser metabolizada, pois precisa ser metabolizada no fígado para chegar a sua forma bioativa no organismo”, afirma Marcela Albuquerque, pós-doutoranda do Laboratório de Microbiologia de Alimentos da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP).
Fermentação natural – Para produzir a vitamina B9, as pesquisadoras utilizam cepas de bactérias lácticas que são seguras para o consumo humano e que já são empregadas pela indústria de alimentos. “Após serem submetidas a determinadas condições, dependendo dos nutrientes disponíveis no meio, do pH e da temperatura, as bactérias que possuem os genes relacionados à biossíntese de folatos, podem produzir a vitamina. Depois, selecionamos as cepas com maior produtividade e aplicamos para o desenvolvimento de um produto fermentado, como leite ou iogurte”, explica Ana Clara Cucick, doutoranda da FCF-USP.
Segundo ela, muitos países aderiram a programas de fortificação obrigatória de alimentos para combater a deficiência de folato, como o Brasil, por exemplo, onde as farinhas de trigo e milho são fortificadas com ferro e ácido fólico para prevenir a anemia e a má formação dos fetos. Tal estratégia trouxe benefícios, como a redução de aproximadamente 30% na ocorrência de doenças do tubo neural em bebês, segundo relatório divulgado em janeiro de 2021 pela Anvisa, porém tem sido alvo de preocupação devido aos possíveis efeitos colaterais advindos da ingestão em excesso do ácido fólico.
Produtos desenvolvidos – Em seu estudo, Cucick conseguiu um leite fermentado que fornecia 20% da recomendação diária de ingestão de vitamina B9 em uma porção de 250 mL. O produto também foi testado em animais para avaliar a biodisponibilidade do nutriente, ou seja, o quanto da vitamina contida no leite fermentado poderia ser aproveitada pelo organismo. Os animais que consumiram o alimento tiveram um aumento de hemácias (glóbulos vermelhos) e hemoglobinas (proteínas que transportam o oxigênio), mostrando que ele pode ser uma alternativa promissora para aumentar a ingestão de folato.
Já a pesquisadora Marcela Albuquerque desenvolveu um produto de soja fermentado que alcançou 14% da indicação diária de consumo da vitamina, além de conter micro-organismos probióticos. Os dados, já publicados em um artigo científico, mostram que a combinação do subproduto do maracujá (descartado pela indústria) e de frutooligossacarídeos (ativos prebióticos) foi capaz de estimular a cultura de micro-organismos probióticos a produzirem folato. O produto também foi submetido a estresse gastrointestinal in vitro e mostrou uma maior bioacessibilidade de folato em relação aos controles.
Embora ainda faltem parcerias para possibilitar a transferência de tecnologia e a disponibilidade no mercado, os resultados são promissores e abrem caminho para novos produtos bio-enriquecidos com a forma natural da vitamina B9.
Saiba mais:
Produção natural de vitamina é mais segura, barata e reduz resíduos químicos
Os suplementos vitamínicos que encontramos nas farmácias podem ser obtidos por meio da extração dos alimentos, por fermentação – quando uma matéria-prima, como leite, pode ser fermentada por micro-organismos e produzir a vitamina naturalmente – ou, ainda, por síntese química. Com o avanço da biotecnologia, estes dois últimos métodos são os mais utilizados e possibilitam a produção em larga escala.
E qual a diferença entre a vitamina natural produzida por fermentação com micro-organismos e a vitamina sintética? A fermentação possui algumas vantagens: é mais barata, produtiva e com menor geração de resíduos químicos. Além disso, a estrutura química da vitamina sintética pode ser um pouco diferente da estrutura da natural, influenciando a sua absorção, transporte, armazenamento ou degradação no organismo. Em geral, os suplementos vitamínicos precisam ser metabolizados no fígado, por isso o consumo exagerado pode sobrecarregá-lo.
Embora as vitaminas sejam essenciais para a saúde, o seu consumo excessivo pode causar intoxicação. Por exemplo: a vitamina A pode provocar pele seca, áspera e descamativa, além de dores de cabeça e fraqueza; a vitamina C, distúrbios gastrointestinais e cálculo renal; a vitamina D, insuficiência renal, desidratação, perda de apetite e vômitos; e a vitamina B12 pode levar a reações alérgicas.
Quando consumir – Segundo a pesquisadora Marcela Albuquerque, apesar da suplementação ser necessária em determinados casos, é importante consultar um médico ou nutricionista e fazer uma avaliação nutricional, em vez de consumir vitaminas por conta própria. “Se for detectada alguma deficiência, aí sim o indivíduo pode entrar com um tratamento adequado, na quantidade diária adequada”, aponta.
Uma alimentação balanceada costuma fornecer todas as vitaminas necessárias, mas nem sempre é possível obtê-las apenas através dos alimentos. Algumas situações podem exigir o uso de suplementos, como baixa absorção de determinada vitamina ou deficiência de vitaminas devido a dietas restritivas ou alergias alimentares (quando há exclusão de algum grupo de alimentos).
A nutricionista Maria Fernanda Elias, doutora em Ciências pela USP e gerente de Comunicação na DSM Nutrição e Saúde Humana para América Latina, explica que a suplementação alimentar pode ser utilizada como forma de evitar que o indivíduo venha a ter deficiências nutricionais em situações em que as necessidades nutricionais estejam aumentadas. “Por exemplo: na prática esportiva, em algumas patologias, na gestação, infância e envelhecimento. Também pode ser uma alternativa para indivíduos que optam pelo vegetarianismo ou veganismo”.
Você sabia?
As vitaminas produzidas por síntese química são: A, B1, B2, B5, B7, B9, C e E. Já por fermentação, a principal vitamina produzida é a B12 – por possuir grande quantidade de reações químicas (aproximadamente 70), é difícil de ser sintetizada quimicamente. No entanto, as vitaminas B2, B7 e C também podem ser obtidas por processos de fermentação.
Fonte: DSM Nutrição e Saúde Humana
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