Ômega-3: é preciso mais estudos para recomendar sua utilização em pacientes com COVID-19

Pesquisadores do FoRC falam neste artigo sobre os potenciais benefícios e riscos da suplementação com ácidos graxos ômega-3 em pacientes com COVID-19.

CORONAVÍRUS

Profª. Dra Inar Castro - Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP
Pesquisadora Associada do FoRC
Prof. Marcelo M. Rogero - Faculdade de Saúde Pública da USP
Pesquisador Associado do FoRC
Dra. Tayse F.F. da Silveira - Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP

21/05/2020 - Desde o início da pandemia de COVID-19, têm-se questionado o uso de suplementos alimentares na recuperação dos doentes. Os ácidos graxos ômega-3 constituem um dos suplementos alimentares mais consumidos e estudados no mundo. Normalmente são encontrados em farmácias ou lojas especializadas, na forma de cápsulas de óleo de peixe ou óleo de alga. São consumidos principalmente por indivíduos que apresentam algum risco cardiovascular, como aqueles que têm elevada concentração de triglicérides no sangue. Além disso, os ácidos graxos ômega-3 apresentam uma ação anti-inflamatória que pode, dependendo dos resultados oriundos de futuros estudos científicos, ser benéfica para pacientes com a COVID-19.

Os médicos têm observado que pacientes com COVID-19 podem apresentar, além dos sintomas clássicos como febre e tosse, também dificuldades respiratórias, reduzida oxigenação sanguínea, coagulação excessiva e redução do número de células do sistema imune. Pacientes em estado crítico também apresentam elevada concentração de substâncias inflamatórias conhecidas por citocinas. Em excesso, essas substâncias provocam a chamada “tempestade de citocinas”, que pode causar um quadro inflamatório agudo, o qual pode comprometer os pulmões e outros órgãos do corpo, levando à morte.

A ação anti-inflamatória dos ácidos graxos ômega-3 ocorre após uma série de reações metabólicas que ocorrem após sua ingestão, pela dieta ou por suplementação. Os estudos científicos mostram que os ácidos graxos ômega-3 podem modificar a composição dos lipídios das membranas celulares, que resulta na produção de moléculas que são menos inflamatórias do que aquelas produzidas quando o ômega-3 não está presente, ajudando a diminuir a inflamação.

Outro aspecto também pouco conhecido é que a combinação de ômega-3 com aspirina auxilia na diminuição da inflamação, o que pode melhorar o prognóstico de pacientes acometidos pela “tempestade de citocinas”. Entretanto, é preciso ressaltar que, nas dosagens consideradas seguras para suplementação, a modificação da composição das membranas não é imediata, podendo levar mais de uma semana para ocorrer.

Um possível efeito adverso da suplementação com ácidos graxos ômega-3 é que esses compostos podem tornar as membranas celulares mais susceptíveis ao ataque de radicais livres e outras espécies altamente reativas, levando ao dano oxidativo. Este fato constitui uma dificuldade adicional para pacientes hospitalizados e com as defesas comprometidas, pois intensifica o dano oxidativo já elevado em decorrência do quadro inflamatório.

Assim como ocorre com os medicamentos, a resposta metabólica decorrente de qualquer tipo de suplementação é individualizada, isto é, pode variar em função do gênero, idade, estilo de vida e características genéticas, entre outros. Portanto, as conclusões sobre os potenciais efeitos da suplementação com ácidos graxos ômega-3 em pacientes com a COVID-19 precisam ser baseadas em resultados observados em estudos controlados, realizados com um grande número de indivíduos. Além disso, o mecanismo de ação do vírus causador da COVID-19 ainda não está totalmente esclarecido, sendo que vários fatores parecem estar envolvidos com a evolução clínica dos pacientes. Esses mesmos fatores poderão influenciar a eficiência da suplementação com ácidos graxos ômega-3 como complementação à terapia com medicamentos aplicada no suporte dos pacientes em estado crítico.
  
Em conclusão, a suplementação com ácidos graxos ômega-3 apresenta potenciais benefícios e riscos, não sendo possível recomendar sua utilização em pacientes com COVID-19 até que sejam realizados estudos clínicos mais conclusivos. Assim, recomenda-se sempre buscar orientação profissional antes de ingerir esses suplementos.

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