Filmes comestíveis e biodegradáveis

Pesquisadores já chegaram a um material com características semelhantes aos polímeros sintéticos.

Fronteira do conhecimento

13/05/2016 - O desenvolvimento de embalagens menos nocivas ao ambiente – e que de quebra agreguem novas funcionalidades para manter as características dos alimentos ou possibilitar o controle de mudanças fisiológicas, microbiológicas e bioquímicas – é uma tendência no mundo todo. No FoRC, pesquisadores como os professores Paulo José do Amaral Sobral e Carmen Tadini se dedicam a investigar novos materiais para embalagens, baseados em biopolímeros de fontes renováveis. Sobral trabalha atualmente com gelatina, substância obtida a partir de resíduos da indústria do abate de bovinos (ossos, couro, cartilagem) e suínos (pele), por meio da separação e do tratamento do colágeno (tecido conjuntivo que segura a estrutura muscular nos ossos).

“É uma proteína produzida no mundo inteiro, pois se origina de matéria prima abundante e, no geral, de custo reduzido; por isso escolhemos a gelatina. Além disso, ela tem boas propriedades, como a de formar filmes, por exemplo”, salienta. Sobral está desenvolvendo filmes e recobrimentos comestíveis e biodegradáveis (chama-se recobrimento à embalagem aplicada ao alimento, como se estivesse colada). “Usamos plastificantes, como a glicerina, ou seja, polióis, que são equivalentes aos açúcares, embora não sejam calóricos.” O professor alerta que o adjetivo “comestível” aqui se refere a uma possibilidade, e não a um hábito ou obrigatoriedade. “Depende muito da higiene, do local onde o alimento foi guardado”, diz. 

O maior apelo desse material, segundo o engenheiro de alimentos, é que como proteína de origem animal, ele é naturalmente biodegradável. “Se a pessoa não consumir e descartar, ele vai desaparecer em cerca de seis semanas, em contato com o solo. Os microrganismos do solo, sobretudo os fungos, consomem o material e transformam tudo nos componentes mais elementares possíveis: gás carbônico, óxidos...”, explica. 


Contudo, ainda há algumas limitações para que o produto seja considerado apto a ser utilizado sem ressalvas. “Tanto a gelatina quanto os plastificantes que usamos, como o glicerol, um subproduto da indústria de biocombustível, são de origem natural e têm grande capacidade de absorver o vapor de água contido no ar. Quando o produto absorve vapor de água, suas características mudam. Ele fica grudento e se destrói facilmente. Hoje, ele teria uma aplicação limitada a regiões muito secas. Mas as pesquisas para melhorá-lo continuam”, relata Sobral.

Ele afirma que, além de tentar modificar as proteínas utilizadas e de testar novos aditivos, está usando também a nanotecnologia para dar conta do problema. “Estamos testando a aplicação de nanopartículas de argila, que têm capacidade de diminuir um pouco essa sensibilidade do material à umidade. Usamos a montmorinollita – que é uma argila natural encontrada pela primeira vez no solo de uma região francesa chamada Montmorillon – e a laponita, que é sintética.”

Sobral conta também que vem tentando acrescentar mais características funcionais ao material, além daquelas básicas (que são conter e proteger o alimento do ambiente). “Estamos buscando dar atividades a esse material, notadamente duas: antioxidante e antimicrobiana, adicionando à estrutura do material óleos essenciais e outros produtos naturais. Os óleos essenciais de orégano e de alecrim, por exemplo, são excelentes conservantes.”

O engenheiro de alimentos revela ainda que, além da gelatina, vem trabalhando com amidos, como o amido de milho e a fécula de mandioca. “Também são de certa forma baratos em relação a alguns polímeros sintéticos. Também são biodegradáveis e comestíveis. No Brasil, em minha opinião, os mais vantajosos para se trabalhar são a gelatina e a fécula de mandioca, porque são abundantes e de baixo custo”, resume.

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