Estudantes de ETEC paulistana trabalham
por dois meses no FoRC

Eles testaram um conservante comercial à base de vinagre, recomendado para produtos cárneos processados
para prevenir a proliferação da bactéria Listeria monocytogenes.

Educomunicação

O FoRC (Food Research Center) recebeu, recentemente, cinco alunos de uma escola técnica localizada na Zona Leste de São Paulo para realização de experimentos no Laboratório de Microbiologia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP), sob a supervisão de uma pós-doutora. Os estudantes Gabriel Gomes Durães (18), Gabriela da Silva Sarmento (18), Larissa Cabral Lima (17), Vinícius da Costa Cardoso (18) e Raphael Portela Eufrásio (17) cursavam o último ano do técnico em Química na ETEC Tiquatira, na Penha, e se viram diante do desafio de desenvolver um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).


“Nós tínhamos uma ideia de tema e fomos para a internet procurar um expert nesse assunto. Nos deparamos com os artigos da professora Bernadette Melo Franco. Então, achamos um endereço de e-mail de um aluno dela e nos comunicamos com ele. Ele passou o contato da professora e mandamos um e-mail para ela. Nem acreditamos quando ela nos respondeu”, lembra Gabriel Durães.


“A professora Bernadette nos explicou que a nossa primeira ideia de tema era muito ambiciosa, estava muito além daquilo que conseguiríamos fazer no tempo que tínhamos e com os conhecimentos de que dispúnhamos”. Então, ela nos auxiliou e chegamos a um tema próximo ao original, mais viável e igualmente interessante”, explica Gabriela. 


Os meninos trabalharam testando um conservante comercial à base de vinagre recomendado para produtos cárneos processados para prevenir a proliferação da bactéria Listeria monocytogenes, que causa a listeriose, sendo especialmente perigosa para mulheres grávidas, crianças recém-nascidas, pessoas idosas e adultos com comprometimento do sistema imune. Se contraída durante a gravidez, a infecção pode resultar em aborto espontâneo, nascimento prematuro, infecção grave do recém-nascido ou mesmo em um natimorto.


“Em relação ao produto testado, de uma grande empresa do setor de ingredientes para alimentos, observamos que há poucos estudos no Brasil, tanto que tivemos de correr bastante atrás de bibliografia, de artigos científicos”, diz Gabriel.
Os alunos confeccionaram uma massa de carne com as mesmas características da linguiça e a dividiram em quatro partes: em uma delas, aplicaram a quantidade de conservante sugerida pelo fabricante (1%); em duas outras, aplicaram respectivamente a metade e o dobro dessa quantidade; e na quarta porção não aplicaram o produto. Todas foram experimentalmente inoculadas com a mesma quantidade da bactéria Listeria monocytogenes.


“Então, de três em três dias, contávamos as unidades formadoras de colônia, para monitorar a proliferação da bactéria e a eficácia do conservante. E concluímos que o produto é eficaz no momento da aplicação, pois reduz o número de bactérias imediatamente. Mas com o passar do tempo a eficácia diminuiu, pois a bactéria se proliferou de forma igual em todos os produtos testados”, explica Larissa Cabral Lima. 


Os integrantes do grupo ressaltam a atenção e a paciência das pessoas que trabalharam com eles no Laboratório de Microbiologia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, onde eles atuaram por dois meses, cerca de três vezes por semana. Para os visitantes, a experiência de estar em um laboratório de Microbiologia, de manipular a bactéria, de ter de fazer as análises e de ter contato com cientistas e pesquisadores foi um marco. “Nos sentimos muito especiais. Não éramos tratados como intrusos, mas como pesquisadores”, resumiram os estudantes, que mostraram aos colegas da ETEC uma foto tirada com a professora Bernadette para que acreditassem que eles realmente estavam trabalhando na USP.
“Sentimos que tudo o que nossos pais pagaram em impostos a vida toda estava voltando para nós. Eu, por exemplo, nunca havia sonhado com a universidade pública. Achava que não era para mim. Mas agora virou um sonho: quero fazer Farmácia na USP”, afirma Gabriela. 


Para Vanessa Biscola, pós-doutora que supervisionou os meninos no laboratório, a evolução dos estudantes durante o tempo em que estiveram no FoRC foi visível. “Eles conseguiram, por exemplo, aprimorar as técnicas microbiológicas. A qualidade das placas de Petri com as culturas das bactérias que obtiveram no final do processo era muito superior à das que faziam logo que chegaram aqui. É uma questão de habilidade manual, que só a prática traz. No geral, eles se saíram muito bem”.


A professora Bernadette destaca que o FoRC estará sempre aberto a estudantes interessados e que esta é uma das atribuições dos CEPID: difundir conhecimento. “Eles aprenderam a trabalhar em laboratório, as práticas, os protocolos de segurança... Fizeram contatos importantes. E, sobretudo, aprenderam o uso prático da ciência. Isso é de grande relevância para nós.”
Segundo ela, a recepção de estudantes secundaristas nas dependências do FoRC não depende de processos de seleção ou de critérios previamente estabelecidos. “O critério é o interesse e a seriedade de quem nos procura, bem como a pertinência da pesquisa, no sentido de estar alinhada com nossas expertises. Estaremos sempre abertos para quem tem interesse.”

compartilhar

Comentários