Em projeto de educação nutricional, crianças criam um programa de TV usando informações científicas.

Educomunicação

Utilizar a educomunicação para promover a educação nutricional de crianças foi o projeto desenvolvido pela nutricionista Camila Pereira no âmbito do Food Research Center (FoRC), centro internacional de pesquisas em alimentos que reúne cientistas de várias instituições e é sediado na Universidade de São Paulo (USP). O projeto envolveu 10 crianças, na faixa dos 10-11 anos, do Jardim Jaqueline, na Região Sul de São Paulo, no qual elas entrevistaram pesquisadores do FoRC sobre nutrição e, ao final, usaram as informações científicas para produzir um programa de televisão sobre o tema. Assista o vídeo.

Educomunicação

Camila desenvolveu a proposta como participante do programa de aprimoramento profissional da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo. Ela fez o programa na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP). “O projeto nasceu da necessidade de fazermos uma prática educativa junto a um grupo de crianças que frequentavam o Centro de Referência em Segurança Alimentar e Nutricional, espaço comunitário no Jardim Jaqueline, com quem temos uma parceria”, explica Ana Maria Cervato-Mancuso, professora da FSP, pesquisadora integrante do FoRC e orientadora de Camila.

A ideia era fazer um programa de educação nutricional sobre alimentos industrializados ou ultraprocessados. “As dúvidas que os escolares tinham sobre nutrição foram o ponto de partida do projeto”, explica Camila. Ana Mancuso sugeriu que Camila utilizasse como metodologia pedagógica a educomunicação, que usa de forma crítica os recursos tecnológicos modernos e técnicas da comunicação/mídia para a aprendizagem. “O modelo educativo em nutrição mais utilizado é a apresentação de palestras de profissionais de saúde em escolas ou encenar peças de teatro, muitas vezes utilizando o teatro de fantoche. A gente quis ir além”, justifica a docente da FSP.

Camila apresentou o tema nutrição para as crianças e trabalhou várias fontes de informações, promovendo uma discussão com as crianças sobre o que já tinham ouvido falar sobre o assunto, detectando as informações prévias e incentivando a leitura crítica dessas informações. As crianças, então, discutiram suas dúvidas com os colegas e selecionaram as melhores perguntas que surgiram no grupo para enviar para os pesquisadores do FoRC – professores e pós-graduandos – responderem. A seguir, elas gravaram em vídeo as perguntas escolhidas e mandaram para os cientistas. “As crianças ensaiaram as perguntas e usaram tablet para fazer as filmagens. Elas se identificavam nos vídeos antes de dizer a pergunta, então os pesquisadores puderam responder para cada criança de forma individualizada”, conta a nutricionista.

Os pesquisadores do FoRC fizeram um planejamento para responder as perguntas de forma didática, interessante e compatível com a linguagem em vídeo. “Foi interessante notar as alternativas que os especialistas usaram para encontrar a linguagem adequada para esse público. Uma pesquisadora mostrou, por exemplo, um copo medidor no qual mostrava quanto óleo tinha num determinado pacote de salgadinhos”, destaca ela. “Foi uma experiência bem diferente para os pesquisadores, mais habituados a falar com outros tipos de público e com outras modalidades de comunicação, como enviar um paper ou ser entrevistado por um jornalista, por exemplo”, acrescenta Ana Mancuso.

Em cima das respostas dos pesquisadores do FoRC, as crianças tinham como missão elaborar conteúdo próprio. Elas escolheram gravar um programa de variedades, com um bloco de entrevista, outro musical e um de culinária. Nesse bloco, por exemplo, eles explicaram os benefícios do macarrão feito com molho de tomate caseiro. “É interessante observar como eles usaram o conteúdo das entrevistas. Por exemplo, eles trocaram a expressão comer moderadamente dita pelos especialistas pelo termo comer bem pouquinho. Não falaram no vídeo que o macarrão natural era melhor, mas inseriram a informação como texto-legenda no vídeo”, lembra Camila.

Considerando a expertise de Ana Mancuso, o FoRC inseriu o projeto de educomunicação em seu plano de trabalho, atendendo a um de seus eixos estratégicos de atuação, a educação e difusão do conhecimento. “Foi muito gratificante para nós, pesquisadores, participar da iniciativa, principalmente depois que vimos o vídeo com os depoimentos das crianças e as atividades que desenvolveram baseadas no que transmitimos a elas. Esperamos continuar o trabalho, dado o enorme potencial demonstrado pela educomunicação na área de nutrição e alimentos”, destaca Eduardo Purgatto, coordenador de Educação e Difusão do FoRC.

Além da participação dos pesquisadores do FoRC como provedores de conteúdo, o centro de pesquisa custeou a contratação de um profissional para editar o vídeo com o programa gravado pelas crianças.

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